Um Mundo de Vidas
NĂłs vivemos da nossa vida um fragmento tĂŁo breve. NĂŁo Ă© da vida geral – Ă© da nossa. É em primeiro lugar a restrita porção do que em cada elemento haveria para viver. Porque em cada um desses elementos há a intensidade com o que poderĂamos viver, a profundeza, as ramificações. NĂłs vivemos Ă superfĂcie de tudo na parte deslizante, a que Ă© facilidade e fuga. O resto prende-se irremediavelmente ao escuro do esquecimento e distracção. Mas há sobretudo a zona incomensurável dos possĂveis que nĂŁo poderemos viver. Porque em cada instante, a cada opção que fazemos, a cada opção que faz o destino por nĂłs, correspondem as inumeráveis opções que nada para nĂłs poderá fazer. Um golpe de sorte ou de azar, o acaso de um encontro, de um lance, de uma falĂŞncia ou benefĂcio fazem-nos eliminar toda uma rede de caminhos para se percorrer um sĂł. Em cada momento há inĂşmeros possĂveis, favoráveis ou desfavoráveis, diante de nĂłs. Mas Ă© um sĂł o que se escolheu ou nos calhou.
Assim durante a vida vão-nos ficando para trás mil soluções que se abandonaram e não poderão jamais fazer parte da nossa vida. Regresso à minha infância e entonteço com as milhentas possibilidades que se me puseram de parte.
Textos sobre Intensidade de VergĂlio Ferreira
2 resultadosA Intensidade de um Sentimento
Creio que a intensidade de um sentimento tem que ver com o nĂşmero de elementos a que se aplica. Penso assim que ele varia na razĂŁo inversa do nĂşmero desses elementos. Quanto maior for o nĂşmero de filhos, menor Ă© a alegria ou o desgosto que cada um provoca ao pai. O máximo de sentir diz respeito a todos e divide-se portanto por cada um. Se um indivĂduo Ă© o chefe de um povo, transfere para a colectividade a sua capacidade de sentir. Assim ele Ă© praticamente insensĂvel perante a sorte de cada um. A famosa insensibilidade de um chefe tem que ver com isso. O mesmo para o autodomĂnio que se refere a um indivĂduo particular. Julgo que na realidade se trata de uma distribuição do seu sentir por vários elementos dos quais por exemplo os filhos (ou ele prĂłprio) sĂŁo apenas uma fracção. O resto dessa fracção pode ir para os seus negĂłcios, o seu partido polĂtico, os seus amigos ou amantes, o seu clube. E entĂŁo o admitável autodomĂnio tem apenas que ver com uma parcela do sentir. E com essa parcela já se pode ser forte e aguentar. Isto, se se nĂŁo trata apenas, como julgo já ter dito,