Perguntas e Respostas
— Qual é a coisa mais antiga do mundo?
— Poderia dizer que é Deus que sempre existiu.
— Qual é a coisa mais bela?
— O instante de inspiração.
— E Deus quando criou o Universo não o fez no momento de Sua maior inspiração?
— O Universo sempre existiu. O cosmos é Deus.
— Qual das coisas é a maior?
— O amor, que é o maior dos mistérios.
— Das coisas qual é a mais constante?
— O medo. Que pena que eu não possa responder: é a esperança.
— Qual o melhor dos sentimentos?
— O de amar e ao mesmo tempo ser amada, o que parece apenas um lugar-comum mas é uma de minhas verdades.
— Qual é o sentimento mais rápido?
— O sentimento mais rápido, que chega a ser apenas um fulgor, é o instante em que um homem e uma mulher sentem um no outro a promessa de um grande amor.
— Qual é a mais forte das coisas?
— O instinto de ser.
— O que é mais fácil de se fazer?
— Existir,
Textos sobre Mistério de Clarice Lispector
5 resultadosA Humildade na Escrita
NĂłs, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistĂ©rio que nĂŁo quero desvendar com o meu raciocĂnio que Ă© frio. Tenho que nĂŁo indagar do mistĂ©rio para nĂŁo trair o milagre. Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade. Meu forte nĂŁo Ă© a humildade em viver. Mas ao escrever sou fatalmente humilde. Embora com limites. Pois do dia em que eu perder dentro de mim a minha prĂłpria importância – tudo estará perdido.
Como Escrever
Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpĂ´-las em palavras. É neste sentido, pois, que escrever me Ă© uma necessidade. De um lado, porque escrever Ă© um modo de nĂŁo mentir o sentimento (a transfiguração involuntária da imaginação Ă© apenas um modo de chegar); de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender, sem ser atravĂ©s do processo de escrever. Se tomo um ar hermĂ©tico, Ă© que nĂŁo sĂł o principal Ă© nĂŁo mentir o sentimento como porque tenho incapacidade de transpĂ´-lo de um modo claro sem que o minta — mentir o pensamento seria tirar a Ăşnica alegria de escrever. Assim, tantas vezes tomo um ar involuntariamente hermĂ©tico, o que acho bem chato nos outros. Depois da coisa escrita, eu poderia friamente torná-la mais clara? Mas Ă© que sou obstinada. E por outro lado, respeito uma certa clareza peculiar ao mistĂ©rio natural, nĂŁo substituĂvel por clareza outra nenhuma. E tambĂ©m porque acredito que a coisa se esclarece sozinha com o tempo: assim como num copo de água, uma vez depositado no fundo o que quer que seja, a água fica clara. Se jamais a água ficar limpa, pior para mim. Aceito o risco. Aceitei risco bem maior, como todo o mundo que vive.
Mais do que Amor
O amor veio afirmar todas as coisas velhas de cuja existĂŞncia apenas sabia sem nunca ter aceito e sentido. O mundo rodava sob seus pĂ©s, havia dois sexos entre os humanos, um traço ligava a fome Ă saciedade, o amor dos animais, as águas das chuvas encaminhavam-se para o mar, crianças eram seres a crescer, na terra o broto se tornaria planta. NĂŁo poderia mais negar… o quĂŞ? — perguntava-se suspensa. O centro luminoso das coisas, a afirmação dormindo em baixo de tudo, a harmonia existente sob o que nĂŁo entendia.
Erguia-se para uma nova manhĂŁ, docemente viva. E sua felicidade era pura como o reflexo do sol na água. Cada acontecimento vibrava em seu corpo como pequenas agulhas de cristal que se espedaçassem. Depois dos momentos curtos e profundos vivia com serenidade durante largo tempo, compreendendo, recebendo, resignando-se a tudo. Parecia-lhe fazer parte do verdadeiro mundo e estranhamente ter-se distanciado dos homens. Apesar de que nesse perĂodo conseguia estender-lhes a mĂŁo com uma fraternidade de que eles sentiam a fonte viva. Falavam-lhe das prĂłprias dores e ela, embora nĂŁo ouvisse, nĂŁo pensasse, nĂŁo falasse, tinha um olhar bom — brilhante e misterioso como o de uma mulher grávida.
Saber que se Vive Ă© Coragem
Ă€s vezes, olhando um instantâneo tirado numa praia ou numa festa, percebia com leve apreensĂŁo irĂłnica o que aquele rosto sorridente e escurecido me revelava: um silĂŞncio. Um silĂŞncio e um destinho que me escapavam, eu, fragmento hieroglĂfico de um impĂ©rio morto ou vivo. Ao olhar o retrato eu via o mistĂ©rio. NĂŁo. NĂŁo vou perder o resto do medo do mau gosto, vou começar meu exercĂcio de coragem, viver nĂŁo Ă© coragem, saber que se vive Ă© coragem – e vou dizer que na minha fotografia eu via O MistĂ©rio.
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