Mas por que eu? Mas por que não eu. Se não tivesse sido eu, eu não saberia, e tendo sido eu, eu soube – apenas isto. O que é que me havia chamado: a loucura ou a realidade?
Passagens de Clarice Lispector
1250 resultadosSejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela? Exatamente porque nunca são as mesmas flores.
Só se sente nos ouvidos o próprio coração. Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio.
Quem manda em mim, se não sou eu? Pois eu não consigo me alcançar.
O mundo me parece uma coisa vasta demais e sem síntese possível
Não se deve viver em luxo. No luxo a gente se torna um objecto que por sua vez tem objectos. Só se vê a «coisa» quando se leva uma vida monástica ou pelo menos sóbria. O espírito pode viver a pão e água.
Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri.
O pior é que ela poderia riscar tudo o que pensara. Seus pensamentos eram, depois de erguidos, estátuas no jardim e ela passava pelo jardim olhando e seguindo o seu caminho.
O que é que se consegue quando se fica feliz? (Perto do Coração Selvagem)
Acho que loucura é perfeição. É como enxergar. Ver é a pura loucura do corpo. Letargia. A sensibilidade trémula tornando tudo ao redor mais sensível e tornando visível, com um pequeno susto e impalpável.
Eu sou feita de tão pouca coisa e meu equilíbrio é tão frágil, que eu preciso de um excesso de segurança para me sentir mais ou menos segura.
Sei que tudo é perfeito, porque seguiu de escala a escala o caminho fatal em relação a si mesmo. Nada escapa à perfeição das coisas, é essa a história de tudo.
Fico às vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só meu coração bate.
Tornar-se humano pode-se transformar em ideal, e sufocar-se de acréscimos… ser humano não deveria ser um ideal para o homem que é fatalmente humano, ser humano tem que ser o modo como eu, coisa viva, obedecendo por liberdade ao caminho do que é vivo, sou humana.
Quando me entrego, me atiro. Mas quando recuo, não volto mais.
Sorria sempre. Seus lábios não precisam traduzir o que acontece no seu coração.
No âmago onde estou, no âmago do É, não faço perguntas. Porque quando é – é. Sou limitada apenas pela minha identidade. Eu, entidade elástica e separada de outros corpos.
Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido.
Vivemos exclusivamente no presente, pois sempre e eternamente é o dia de hoje, e o dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado das coisas nesse momento.
O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio.