A pior descoberta foi a de que o mundo não é humano, e de que não somos humanos.
Passagens de Clarice Lispector
1250 resultadosEu prefiro olhar para trás e dizer: ?Eu não posso acreditar que fiz isso.? Do que dizer ?Eu gostaria de ter feito isso.
Estado Agudo de Felicidade
Com duas pessoas eu já entrei em comunicação tão forte que deixei de existir, sendo. Como explicar? Olhávamo-nos nos olhos e não dizíamos nada, e eu era a outra pessoa e a outra pessoa era eu. É tão difícil falar, é tão difícil dizer coisas que não podem ser ditas, é tão silencioso. Como traduzir o profundo silêncio do encontro entre duas almas? E dificílimo contar: nós estávamos nos olhando fixamente, e assim ficamos por uns instantes. Éramos um só ser. Esses momentos são o meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isso de: estado agudo de felicidade. Estou terrivelmente lúcida e parece que estou atingindo um plano mais alto de humanidade. Foram os momentos mais altos que jamais tive.
Cada vez que vou escrever, é como se fosse a primeira vez. Cada livro meu é uma estreia penosa e feliz. Essa capacidade de me renovar toda à medida que o tempo passa é o que eu chamo de viver e escrever.
Pois olhe declarou de repente uma velha fechando o jornal com decisão pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz.
Ignore, supere, esqueça. Mas jamais pense em desistir de você por causa de alguém.
Meus dias são um só clímax: vivo à beira.
Para escrever eu antes me despojo das palavras. Prefiro palavras pobres que me restam.
A minha única salvação é a alegria. (Água Viva)
Tudo acaba, mas o que te escrevo continua. O melhor está nas entrelinhas.
Faz de conta que tudo que ela tinha não era de faz de conta.
É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos é que começamos a saber.
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.
Preciso ser livre – não aguento a escravidão do amor grande, o amor não me prende tanto.
Faz de conta que ela não estava chorando por dentro, pois agora, mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado.
Refugio-me nas rosas, nas palavras. Pobre consolação. Estou inflacionada. Não valho nada.
Bom, agora eu morri… Mas vamos ver se eu renasço de novo. Por enquanto eu estou morta.
Quando de noite ele me chamar para a atração do inferno, irei. Desço como um gato pelos telhados. Ninguém sabe, ninguém vê. Só os cães ladram pressentindo o sobrenatural.
Para te escrever eu antes me perfumo toda. Eu te conheço todo por te viver toda. Em mim é profunda a vida. As madrugadas vêm me encontrar pálida de ter vivido a noite dos sonhos fundos. Embora às vezes eu sobrenade num raso aparente que tem debaixo de si uma profundidade de azul-escuro quase negro. Por isso te escrevo. Por sopro das grossas algas e no tenro nascente do amor.
E eu não aguento a resignação. Ah, como devoro com fome e prazer a revolta.