Textos sobre Objeto de Montesquieu

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Existência, Corpo e Costumes, Como Eixos do Gosto

Na nossa actual maneira de ser, a nossa alma aprecia três tipos de prazer: aqueles que ela retira do próprio fundo da sua existência; outros que resultam da sua união com o corpo; e por fim, outros que radicam nos costumes e preconceitos que certas instituições, certos usos e certos hábitos lhe levam a apreciar.
São esses diferentes prazeres da nossa alma que constituem os objectos do gosto, como o belo, o bom, o agradável, o cândido, o delicado, o terno, o gracioso, o não sei o quê, o nobre, o grande, o sublime, o majestoso, etc. Por exemplo, quando sentimos prazer ao ver uma coisa que possui uma utilidade para nós, dizemos que ela é boa; quando sentimos prazer ao vê-la, sem dela abstrairmos uma utilidade manifesta, chamamo-la bela.

Os Prazeres Nunca Parecem Ser Suficientes

Parece-me que a natureza trabalhou para ingratos: somos felizes, mas os nossos discursos são tais que parecemos nem sequer suspeitar disso. No entanto, encontramos prazeres em toda a parte: estão ligados ao nosso ser, e os pesares não passam de acidentes. Os objectos parecem em toda a parte preparados para os nossos prazeres: quando o sono nos chama, as trevas nos aguardam; e, quando acordamos, a luz do dia nos arrebata. A natureza é enfeitada de mil cores; os nossos ouvidos são lisonjeados pelos sons; as iguarias têm gosto agradável; e, como se a felicidade da existência não fosse suficiente, é ainda necessário que a nossa máquina precise de ser incessantemente reparada para os nossos prazeres.

A Ordem e a Variedade

Não basta mostrar à alma muitas coisas, é necessária mostrá-las com ordem, porque nesse caso lembramo-nos daquilo que vimos e começamos a imaginar o que veremos; a nossa alma alegra-se pelo seu alcance e pela sua capacidade de penetração; mas numa obra onde não existe qualquer ordem, a alma vê vacilar em cada instante quem deseja introduzir-se nela. A sequência que o autor cria confunde-se com aquela que nós fazemos; a alma não retém nada, não prevê nada; é humilhada pela confusão das suas ideias, pela inutilidade que lhe resta; encontra-se verdadeiramente fatigada e não pode apreciar qualquer prazer.
(…) Mas se a ordem é necessária às coisas, é também necessária a variedade: sem ela a alma esmorece, porque as coisas semelhantes lhe parecem as mesmas e, se uma parte de um quadro se assemelhasse a outra que tivéssemos visto, esse objecto seria novo sem o parecer e não proporcionaria qualquer prazer. E, como a beleza das obras de arte, tal como a da natureza, consiste no prazer que nos proporciona, é necessário torná-la o mais possível apta a variar esses prazeres; é necessário fazer a alma ver coisas que nunca viu; é necessário que o sentimento que lhe propocionamos seja diferente do que tem sentido até ali.

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