Passagens de Carlos Saldanha Legendre

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Sete Haicais – um Poema

Este vale canta
– um pĂĄssaro fez morada
em sua garganta.

O inverno me achou
lavrando a terra. Havia paz
no canto das pĂĄs.

Botas de soldado
frente ao mar. – Vindes matar
até as gaivotas?

Partes para a guerra.
Sim, nada digas. Ouçamos
o rio de formigas.

A ideia da morte
vem-me ao colo e pede afagos
como um gato (abstracto).

Ah! amigo, amigo
– alĂ©m da morte, que posso
repartir contigo?

Porque tudo jĂĄ
foi dito, destravo a lĂ­ngua
no vazio, aos gritos!

Manhãs de Além-Tunel

I

um tĂșnel um tĂșnel um tĂșnel sem fim
ao fim do tĂșnel sem fim um tonel
um tonel de mel de AlĂ©m-TĂșnel

um tonel de toneladas de mel
do mel de um dia melado de luz sem
fim

que compus para ti
para mim

II

te possuĂ­ aqui acolĂĄ
em tantos sĂ­tios
cantados semprencantados

— mas nunca

te possuĂ­ ao fim de um tĂșnel
nunca te possuĂ­ ao fim
nunca te possuĂ­
nunca

mas quanto te desejei
vĂŁs manhĂŁs, jĂĄ nĂŁo sei

Coordenadas

Conheço
os começos

— o chegar as chuvas
as migraçÔes, o mugir
de parelhas atreladas
aos varais da madrugada.

Conheço onde começa
o medo o estupor o soco!
Onde o homem no ar
parado, rodopia

— e tomba

quando assoma
o zinabre ao gesto
e a lĂąmina se limpa
de espessa fĂșria.

Também conheço
antiga promessa
de urtiga Ă s costas,
premissa de colheita
proposta pelos caules.

E mais conheço
onde a terra exaure
o corpo que nela deita,

onde o Ă­ntimo de nosso
ser em pó começa a ser
sopro de ossos.

Mas desconheço
o remanso das tréguas
o descanso dos remos
o ponto de equilĂ­brio

onde estou