Ruinas
Pandeiros rôtos e côxas táças de crystal aos pés da muralha.
Heras como Romeus, Julietas as ameias. E o vento toca, em bandolins distantes, surdinas finas de princezas mortas.
Poeiras adormecidas, netas fidalgas de minuetes de mĂŁos esguias e de cabelleiras embranquecidas.
Aquellas ameias cingiram uma noite peccados sem fim; e ainda guardam os segredos dos mudos beijos de muitas noites. E a lua velhinha todas as noites rĂ©za a chorar: Era uma vez em tempo antigo um castello de nobres naquelle lugar… E a lua, a contar, pára um instante – tem mĂŞdo do frio dos subterraneos.
Ouvem-se na sala que já nem existe, compassos de danças e rizinhos de sêdas.
Aquellas ruinas sĂŁo o tumulo sagrado de um beijo adormecido – cartas lacradas com ligas azues de fechos de oiro e armas reais e lizes.
Pobres velhinhas da cĂ´r do luar, sem terço nem nada, e sempre a rezar…
Noites de insonia com as galés no mar e a alma nas galés.
Archeiros amordaçados na noite em que o cĂ´che era de volta ao palacio pela tapada d’El-rei. Grande caçada na floresta–galgos brancos e Amazonas negras.
Passagens sobre Fidalgos
25 resultadosNĂłs Somos Vida das Gentes
Sempre Ă© morto quem do arado
há-de viver.Nós somos vida das gentes,
e morte de nossas vidas;
a tiranos pacientes
que a unhas e a dentes
nos tĂŞm as almas roĂdas.
Pera que Ă© parouvelar?
Que queira ser pecador
o lavrador,
nĂŁo tem tempo nem lugar
nem somente d’alimpar
as gotas do seu suor.N’ergueija bradam co’ele,
porque assoviou a um cĂŁo;
e logo excomunhĂŁo na pele,
o fidalgo, maçar nele,
atá o mais triste rascão.
Se nĂŁo levam torta a mĂŁo,
nĂŁo lhe acham nenhum dereito.
Muito atribulados sĂŁo!
Cada um pela o vilĂŁo
per seu jeito.Trago a prepĂłsito isto,
perque veio a bem de fala.
Manifesto está e visto
que o bento Jesu Cristo
deve ser homem de gala.
E Ă© rezĂŁo que nos valha
neste serĂŁo glorioso,
que Ă© gram refĂşgio sem falha.
Isto me faz forçoso,
e nĂŁo estou temeroso
nemigalha.(excerto)
Todo o ganho Ă© fidalgo.
O RelĂłgio
EbĂşrneo Ă© o mostrador: as horas sĂŁo de prata
LĂŞ-se a firma Breguet por baixo do gracioso
Rendilhado ponteiro; a tampa Ă© enorme e chata:
Nela o esmalte produz um quadro delicioso.Repara: eis um salĂŁo: casquilho malicioso
Das festas cortesĂŁs o mimo, a flor, a nata,
Junto a um cravo sonoro a alegre voz desata.
Uma fidalga o escuta Ă©bria de amor e gozo.Rasga-se ampla a janela; ao longe o olhar descobre
O correto jardim e o parque extenso e nobre.
As nuvens no alto céu flutuam como espumas.Da paisagem no fundo, em lago transparente,
Onde se espelha o azul e o laranjal frondente,
Um cisne Ă luz do sol estende as nĂveas plumas.
A Cavalgada
A lua banha a solitária estrada…
SilĂŞncio!… mas alĂ©m, confuso e brando,
O som longĂnquo vem se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.São fidalgos que voltam da caçada;
VĂŞm alegres, vĂŞm rindo, vĂŞm cantando,
E as trompas a soar vĂŁo agitando
O remanso da noite embalsamada…E o bosque estala, move-se, estremece…
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se apĂłs no centro da montanha…E o silĂŞncio outra vez soturno desce,
E lĂmpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha…