Poemas sobre Agulhas de Eugénio de Andrade

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Poemas de agulhas de Eugénio de Andrade. Leia este e outros poemas de Eugénio de Andrade em Poetris.

Obscuro DomĂ­nio

Amar-te assim desvelado
entre barro fresco e ardor.
Sorver o rumor das luzes
entre os teus lábios fendidos.

Deslizar pela vertente
da garganta, ser mĂşsica
onde o silĂŞncio aflui
e se concentra.

IrreprimĂ­vel queimadura
ou vertigem desdobrada
beijo a beijo,
brancura dilacerada

Penetrar na doçura da areia
ou do lume,
na luz queimada
da pupila mais azul,

no oiro anoitecido
entre pétalas cerradas,
no alto e navegável
golfo do desejo,

onde o furor habita
crispado de agulhas,
onde faça sangrar
as tuas águas nuas.

Labirinto ou Alguns Lugares de Amor

O outono
por assim dizer
pois era verĂŁo
forrado de agulhas

a cal
rumorosa
do sol dos cardos

sem outras mĂŁos que lentas barcas
vai-se aproximando a água

a nudez do vidro
a luz
a prumo dos mastros

os prados matinais
os pés
verdes quase

o brilho
das magnĂłlias
apertado nos dentes

uma espécie de tumulto
as unhas
tĂŁo fatigadas dos dedos

o bosque abre-se beijo a beijo
e Ă© branco

O Amor

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável

A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma

Assim é o amor: mortal e navegável.

Sobre o Caminho

Nada

nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirĂŁo a palavra

NĂŁo interrogues nĂŁo perguntes
entre a razĂŁo e a turbulĂŞncia da neve
não há diferença

NĂŁo colecciones dejectos o teu destino Ă©s tu

Despe-te
não há outro caminho