Poemas sobre Astros de Manuel Alegre

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Poemas de astros de Manuel Alegre. Leia este e outros poemas de Manuel Alegre em Poetris.

Lisboa perto e longe

Lisboa chora dentro de Lisboa
Lisboa tem palácios sentinelas.
E fecham-se janelas quando voa
nas praças de Lisboa – branca e rota
a blusa de seu povo – essa gaivota.

Lisboa tem casernas catedrais
museus cadeias donos muito velhos
palavras de joelhos tribunais.
Parada sobre o cais olhando as águas
Lisboa é triste assim cheia de mágoas.

Lisboa tem o sol crucificado
nas armas que em Lisboa estĂŁo voltadas
contra as mĂŁos desarmadas – povo armado
de vento revoltado violas astros
– meu povo que ninguĂ©m verá de rastos.

Lisboa tem o Tejo tem veleiros
e dentro das prisões tem velas rios
dentro das mĂŁos navios prisioneiros
ai olhos marinheiros – mar aberto
– com Lisboa tĂŁo longe em Lisboa tĂŁo perto.

Lisba Ă© uma palavra dolorosa
Lisboa sĂŁo seis letras proibidas
seis gaivotas feridas rosa a rosa
Lisboa a desditosa desfolhada
palavra por palavra espada a espada.

Lisboa tem um cravo em cada mĂŁo
tem camisas que abril desabotoa
mas em maio Lisboa é uma canção
onde há versos que são cravos vermelhos
Lisboa que ninguem verá de joelhos.

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Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
Ă© possĂ­vel amar sem que venham proibir
Ă© possĂ­vel correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar nĂŁo tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
Ă© possĂ­vel viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer nĂŁo grita comigo: nĂŁo.

É possível viver de outro modo. É
possĂ­vel transformares em arma a tua mĂŁo.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

NĂŁo te deixes murchar. NĂŁo deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.