Poemas sobre Braços de Carlos Drummond de Andrade

3 resultados
Poemas de braços de Carlos Drummond de Andrade. Leia este e outros poemas de Carlos Drummond de Andrade em Poetris.

AusĂȘncia

Por muito tempo achei que a ausĂȘncia Ă© falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje nĂŁo a lastimo.
NĂŁo hĂĄ falta na ausĂȘncia.
A ausĂȘncia Ă© um estar em mim.
E sinto-a, branca, tĂŁo pegada, aconchegada nos meus
[braços,
que rio e danço e invento exclamaçÔes alegres,
porque a ausĂȘncia, essa ausĂȘncia assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Briga

Brigar Ă© simples.
Chame-se covarde ao contendor.
Ele olhe nos olhos e:
— Repete.
Repita-se: — Covarde.
EntĂŁo ele recite, resoluto:
— Puta que pariu.
— A sua, fio da puta.

Cessem as palavras. BofetĂŁo.
Articulem-se os dois no braço a braço.
Soco de lĂĄ soco de cĂĄ
pontapé calço rasteira
unha, dente, sérios, aplicados
na honra de lutar:
um corpo sĂł de dois que se embolaram.

Dure o tempo que durar
a resistĂȘncia de um.
NĂŁo desdoura apanhar, mas que se cumpra
a lei da briga, simples.

O Amor Bate na Porta

Cantiga do amor sem eira
nem beira,
vira o mundo de cabeça
para baixo,
suspende a saia das mulheres,
tira os Ăłculos dos homens,
o amor, seja como for,
Ă© o amor.

Meu bem, nĂŁo chores,
hoje tem filme de Carlito!

O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei.
CardĂ­aco e melancĂłlico,
o amor ronca na horta
entre pés de laranjeira
entre uvas meio verdes
e desejos jĂĄ maduros.

Entre uvas meio verdes,
meu amor, nĂŁo te atormentes.
Certos åcidos adoçam
a boca murcha dos velhos
e quando os dentes nĂŁo mordem
e quando os braços não prendem
o amor faz uma cĂłcega
o amor desenha uma curva
propÔe uma geometria.

Amor Ă© bicho instruĂ­do.
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na ĂĄrvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrĂłgino.
Essa ferida, meu bem,
Ă s vezes nĂŁo sara nunca
Ă s vezes sara amanhĂŁ.

Continue lendo…