Poemas sobre CĂŁes de Federico GarcĂ­a Lorca

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Poemas de cĂŁes de Federico GarcĂ­a Lorca. Leia este e outros poemas de Federico GarcĂ­a Lorca em Poetris.

Gazel da Lembrança de Amor

Tua lembrança não leves.
Deixa-a sozinha em meu peito,

tremor de alva cerejeira
no martĂ­rio de janeiro.

Dos que morreram separa-me
um muro de sonhos maus.

Dou pena de lĂ­rio fresco
para um coração de gesso.

A noite inteira, no horto,
meus olhos, como dois cĂŁes.

A noite inteira, correndo
os marmelos de veneno.

Algumas vezes o vento
uma tulipa Ă© de medo,

Ă© uma tulipa enferma
a madrugada de inverno.

Um muro de sonhos maus
me afasta dos que morreram.

A nĂ©voa cobre em silĂȘncio
o vale gris de teu corpo.

Pelo arco do encontro
a cicuta estĂĄ crescendo.

Mas deixa tua lembrança,
deixa-a sozinha em meu peito.

Tradução de Oscar Mendes

Tenho Medo de Perder a Maravilha

Tenho medo de perder a maravilha
de teus olhos de estĂĄtua e aquele acento
que de noite me imprime em plena face
de teu alento a solitĂĄria rosa.

Tenho pena de ser nesta ribeira
tronco sem ramos; e o que mais eu sinto
Ă© nĂŁo ter a flor, polpa, ou argila
para o gusano do meu sofrimento.

Se Ă©s o tesouro meu que oculto tenho
se Ă©s minha cruz e minha dor molhada,
se de teu senhorio sou o cĂŁo,

nĂŁo me deixes perder o que ganhei
e as ĂĄguas decora de teu rio
com as folhas do meu outono esquivo.

Tradução de Oscar Mendes

A Casada Infiel

Levei-a comigo ao rio,
pensando que era donzela,
porém jå tinha marido.
Foi na noite de Santiago
e quase por compromisso.
Os lampiÔes se apagaram
e acenderam-se os grilos.
Nas derradeiras esquinas
toquei seus peitos dormidos
e pra mim logo se abriram
como ramos de jacintos.
A goma de sua anĂĄgua
soava no meu ouvido,
como uma peça de seda
lacerada por dez facas.
Sem luz de prata nas copas
as ĂĄrvores tĂȘm crescido,
e um horizonte de cĂŁes
ladra mui longe do rio.

*

Passadas as sarçamoras
os juncos e os espinheiros,
por debaixo da folhagem
fiz um fojo sobre o limo.
Minha gravata tirei.
Tirou ela seu vestido.
Eu, o cinto com revĂłlver.
Ela, seus quatro corpetes.
Nem nardos nem caracĂłis
tĂȘm uma cĂștis tĂŁo fina,
nem os cristais ao luar
resplandecem com tal brilho.
Suas coxas me fugiam
como peixes surpreendidos,
metade cheia de lume,
metade cheia de frio.
Percorri naquela noite
o mais belo dos caminhos,
montado em potra de nĂĄcar
sem bridas e sem estribos.

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