Poemas sobre Areia de Federico GarcĂ­a Lorca

3 resultados
Poemas de areia de Federico GarcĂ­a Lorca. Leia este e outros poemas de Federico GarcĂ­a Lorca em Poetris.

E Eu te Beijava

E eu te beijava
sem me dar conta
de que nĂŁo te dizia:
Oh lábios de cereja!

Que grande romântica
eras!
Bebias vinagre Ă s escondidas
de tua avĂł.
Toda te enfeitaste como um
arbusto de primavera.
E eu estava enamorado
de outra. VĂŞ que pena?
De outra que escrevia
um nome sobre a areia.

Tradução de Oscar Mendes

RuĂ­na

Sem encontrar-se.
Viajante pelo seu prĂłprio torso branco.
Assim ia o ar.

Logo se viu que a lua
era uma caveira de cavalo
e o ar uma maçã escura.

Detrás da janela,
com látegos e luzes se sentia
a luta da areia contra a água.

Eu vi chegarem as ervas
e lhes lancei um cordeiro que balia
sob seus dentezinhos e lancetas.

Voava dentro de uma gota
a casca de pluma e celulĂłide
da primeira pomba.

As nuvens, em manada,
ficaram adormecidas contemplando
o duelo das rochas contra a aurora.

VĂŞm as ervas, filho;
já soam suas espadas de saliva
pelo céu vazio.

Minha mĂŁo, amor. As ervas!
Pelos cristais partidos da morada
o sangue desatou suas cabeleiras.

Tu somente e eu ficamos;
prepara teu esqueleto para o ar.
Eu sĂł e tu ficamos.

Prepara teu esqueleto;
Ă© preciso ir buscar depressa, amor, depressa,
nosso perfil sem sonho.

A Casada Infiel

Levei-a comigo ao rio,
pensando que era donzela,
porém já tinha marido.
Foi na noite de Santiago
e quase por compromisso.
Os lampiões se apagaram
e acenderam-se os grilos.
Nas derradeiras esquinas
toquei seus peitos dormidos
e pra mim logo se abriram
como ramos de jacintos.
A goma de sua anágua
soava no meu ouvido,
como uma peça de seda
lacerada por dez facas.
Sem luz de prata nas copas
as árvores têm crescido,
e um horizonte de cĂŁes
ladra mui longe do rio.

*

Passadas as sarçamoras
os juncos e os espinheiros,
por debaixo da folhagem
fiz um fojo sobre o limo.
Minha gravata tirei.
Tirou ela seu vestido.
Eu, o cinto com revĂłlver.
Ela, seus quatro corpetes.
Nem nardos nem caracĂłis
tĂŞm uma cĂştis tĂŁo fina,
nem os cristais ao luar
resplandecem com tal brilho.
Suas coxas me fugiam
como peixes surpreendidos,
metade cheia de lume,
metade cheia de frio.
Percorri naquela noite
o mais belo dos caminhos,
montado em potra de nácar
sem bridas e sem estribos.

Continue lendo…