Poemas sobre Caminhadas

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Poemas de caminhadas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Calçada de Carriche

LuĂ­sa sobe,
sobe a calçada,
sobe e nĂŁo pode
que vai cansada.
Sobe, LuĂ­sa,
LuĂ­sa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mĂŁo grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, LuĂ­sa,
LuĂ­sa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

LuĂ­sa Ă© nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, LuĂ­sa.
LuĂ­sa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, LuĂ­sa,
LuĂ­sa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
nĂŁo disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito Ă  casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se Ă  pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;

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Saudade

Ter saudade
Ă© vaga disforme de um corpo.
Ter saudade
é pássaro que aparece e se apaga
erguido de confusĂŁo
na angĂşstia, teste dado Ă  natureza
bruxuleante dentro de mim.
Ter saudade
Ă© fingir qualquer coisa que inquieta,
levantada, desenterrada do crivo da memĂłria.
Por vezes quando o tempo por ela passa
nĂŁo passa o tempo da saudade,
estátua rígida dum destino anoitecido,
passa um nada meio acontecido.
Saudade,
Ă© filha da alma do mundo
que de tanto ser outro
sou eu já.
Saudade,
porque viajas cansada
em horas dentro de mim?
Saudade
que vieste até à última força desta linha,
brumosa da eterna caminhada.
Sempre que vieres
sem avisares
leva-me contigo
para que a paz volte
Ă  memĂłria de meu corpo
como o rio que passa
no tempo final da minha natureza.

Matura Idade

Já não receio
meu avesso de medos.

Distingo as coisas
em sua proposta exacta
e sei — cada ser
possui justa medida.

Já não almejo
o que me foi negado.

Prossigo a caminhada
colhendo o que
me coube, consoante
o chĂŁo lavrado.

Do Inquieto Oceano da MultidĂŁo

Do inquieto oceano da multidĂŁo
veio a mim uma gota gentilmente
suspirando:

— Eu te amo, há longo tempo
fiz uma extensa caminhada apenas
para te olhar, tocar-te,
pois nĂŁo podia morrer
sem te olhar uma vez antes,
com o meu temor de perder-te depois.

— Agora nos encontramos e olhamos,
estamos salvos,
retorna em paz ao oceano, meu amor,
também sou parte do oceano, meu amor,
nĂŁo estamos assim tĂŁo separados,
olha a imensa curvatura,
a coesĂŁo de tudo tĂŁo perfeito!
Quanto a mim e a ti,
separa-nos o mar irresistĂ­vel
levando-nos algum tempo afastados,
embora nĂŁo possa afastar-nos sempre:
não fiques impaciente — um breve espaço
e fica certa de que eu saĂşdo o ar,
a terra e o oceano,
todos os dias ao pĂ´r-do-sol
por tua amada causa, meu amor.

Ă“ HĂŤMEN! Ă“ HIMENEU!

O hĂ­men! O himeneu!
Por que, me atormentas assim?
Por que, me provocas sĂł
durante um breve momento?
Por que Ă© que nĂŁo continuas?
Por que, perdes logo a força?

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