Poemas sobre Conceito

3 resultados
Poemas de conceito escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Amor

I

Eu nunca naveguei, pieguĂ­ssimo argonauta
Dans les fleuves du tendre, onde hĂĄ naufrĂĄgios bons,
Conduzindo Florian na tolda a tocar frauta,
E cupidinhos d’oiro a tasquinhar bombons.
Nunca ninguém me viu de capa à trovador,
Às horas em que está já Menelau deitado,
A tanger o arrabil sob os balcÔes em flor
Dos castelos feudais de papelĂŁo doirado.
NĂŁo canto de Anfitrite as vaporosas fraldas,
(Eu nĂŁo quero com isto, Ăł VĂ©nus, descompor-te)
Nem costumo almoçar c’roado de grinaldas,
Nem nunca pastoreei enfim, vestido Ă  corte,
De bordão de cristal e punhos de Alençon,
Borreguinhos de neve a tosar esmeraldas
Num lameiro qualquer de qualquer Trianon.
Eu não bebo ambrósia em taças cristalinas,
Bebo um vinho qualquer do Douro ou de Bucelas,
Nem vou interrogar as folhas das boninas,
Para saber o amor, o tal amor das Elas.
NĂŁo visto da poesia a tĂșnica inconsĂștil,
Pela simples razĂŁo, sob o pretexto fĂștil
De ter visto passar na rua uns pés bonitos;
Nem do meu coração eu fiz um paliteiro,
Onde venha o amor cravar os seus palitos.

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É InĂștil Querer Parar o Homem

É inĂștil querer parar o Homem,
o que transforma a pedra em piso,
o piso em casa e a casa em fonte
de novas mĂșsicas da carne
sob as velocidades da luz e da sombra.
É inĂștil querer parar o Homem
acolher sempre um pouco de si prĂłprio
no mistério da vida a cavalgar
os cavalos aéreos da semùntica
sob uma indeferida eternidade.
É inĂștil querer parar o Homem
e o impulso que o transforma sempre
na pĂĄtria sem fim do ato livre
que arranca a vida e o tempo e as coisas
do espelho imĂłvel dos conceitos.
Ah, que mistério maior é este
que liga a liberdade e o homem
e une o homem a outros homens
como o curso de um rio ao mar!
(quando a noite Ă© una e indivisĂ­vel,
nos olhos da mulher que eu amo
acende-se o deus deste segredo
-e uma sombra sĂł nos transporta
ao fundo sem nome da vida.)

É inĂștil querer parar o Homem.
Do que morre fica o gesto alto
a ser o germe de outro gesto
que ainda nem vemos no tempo.

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Os Amantes

Amor, Ă© falso o que dizes;
Teu bom rosto Ă© contrafeito;
Busca novos infelizes
Que eu inda trago no peito
Mui frescas as cicatrizes;

O teu meu Ă© mel azedo,
NĂŁo creio em teu gasalhado,
Mostras-me em vĂŁo rosto ledo;
JĂĄ estou muito escaldado,
JĂĄ d’ĂĄguas frias hei medo.

Teus prémios são pranto e dor;
Choro os mal gastados anos
Em que servi tal senhor,
Mas tirei dos teus enganos
O sair bom pregador.

Fartei-te assaz a vontade;
Em vĂŁos suspiros e queixas
Me levaste a mocidade,
E nem ao menos me deixas
Os restos da curta idade?

És como os cães esfaimados
Que, comendo os troncos quentes
Por destro negro esfolados,
Levam nos ĂĄvidos dentes
Os ossos ensanguentados.

Bem vejo a aljava dourada
Os ombros nus adornar-te;
Amigo, muda de estrada,
PÔe a mira em outra parte
Que daqui nĂŁo tiras nada.

Busca algum fofo morgado
Que, solto jĂĄ dos tutores,
Ao domingo penteado,
VĂĄ dizendo Ă  toa amores
Pelas pias encostado;

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