Poemas sobre ConsequĂȘncia

11 resultados
Poemas de consequĂȘncia escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Guerra que Aflige com seus EsquadrÔes

A guerra, que aflige com os seus esquadrÔes o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.

A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.

Mas a guerra inflige a morte.
E a morte Ă© o desprezo do Universo por nĂłs.
Tendo por consequĂȘncia a morte, a guerra prova que Ă© falsa.
Sendo falsa, prova que Ă© falso todo o querer-alterar.

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pĂŽs.

Tudo Ă© orgulho e inconsciĂȘncia.
Tudo Ă© querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto.
Para o coração e o comandante dos esquadrÔes
Regressa aos bocados o universo exterior.

A quĂ­mica directa da Natureza
NĂŁo deixa lugar vago para o pensamento.

A humanidade Ă© uma revolta de escravos.
A humanidade Ă© um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar Ă© nĂŁo ter direito.

Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem,
Paz Ă  essĂȘncia inteiramente exterior do Universo!

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Homem para Deus

Ele vai só ele não tem ninguém
onde morrer um pouco toda a morte que o espera
Se é ele o portador do grande coração
e sabe abrir o seio como a terra
temei não partam dele as grandes negaçÔes
Que hĂĄ de comum entre ele e quem na juventude foi
que mĂŁo estendem eles um ao outro
por sobre tanta morte que nos dias veio?
E no seu coração que todo o homem ri e sofre
é lå que as estaçÔes recolhem findo o fogo
onde aquecer as mãos durante a tentação
Ă© lĂĄ que no seu tempo tudo nasce ou morre
NĂŁo leva mais de seu que esse pequeno orgulho
de saber que decerto qualquer coisa acabarĂĄ
quando partir um dia para nĂŁo voltar
e que entĂŁo finalmente uma atitude sua hĂĄ-de implicar
embora diminuta uma qualquer consequĂȘncia
O que deus terĂĄ visto nele para morrer por ele?
Oh que responsabilidade a sua
Que nĂŁo dĂȘ como a ĂĄrvore sobre a vida simples sombra
que faça mais do que crescer e ir perdendo vestes

Oh que difĂ­cil nĂŁo Ă© criar um homem para deus

No Magno Dia até os Sons São Claros

No magno dia até os sons são claros.
Pelo repouso do amplo campo tardam.
MĂșrmura, a brisa cala.
Quisera, como os sons, viver das coisas
Mas nĂŁo ser delas, consequĂȘncia alada
Em que o real vai longe.

Se Tudo quanto Existe…

Se tudo quanto existe
é lenta evolução,
longa transformação
sem Deus e sem mistério;
se tudo no Universo tem sentido
sem o sopro divino;
se o segredo da vida, a criação,
se explica pela ciĂȘncia,
e a corrente vital
Ă© tambĂ©m consequĂȘncia;
se a humana consciĂȘncia
Ă© simples equação…
— que significa a vocação do eterno,
que quer dizer a aspiração do Céu
e o terror do inferno?

E se acaso Ă© o instinto a lei da vida,
se a verdade
Ă© sĂł necessidade
inexorĂĄvel, lenta, laboriosa,

que såbia explicação
tem esta frĂĄgil, esta inĂștil rosa?

Nuvens

No dia triste o meu coração mais triste que o dia…
ObrigaçÔes morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequĂȘncias?
NĂŁo, nada…
O dia triste, a pouca vontade para tudo…
Nada…

Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos tĂȘm razĂŁo, ou vida, ou ignorĂąncia simĂ©trica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para nĂŁo voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
NĂŁo sentem o que hĂĄ de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrĂ­vel em todo o novo…

NĂŁo sentem: por isso sĂŁo deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
VĂŁo a todos os teatros e conhecem gente…
NĂŁo sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
DeixĂĄ-lo passar engrinaldado para o sacrifĂ­cio
Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se…
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer…

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Tabacaria

NĂŁo sou nada.
Nunca serei nada.
NĂŁo posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhÔes do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem Ă©, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessĂ­vel a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pĂŽr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lĂșcido, como se estivesse para morrer,
E nĂŁo tivesse mais irmandade com as coisas
SenĂŁo uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.

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A Guerra

Musa, pois cuidas que Ă© sal
o fel de autores perversos,
e o mundo levas a mal,
porque leste quatro versos
de HorĂĄcio e de Juvenal,

Agora os verĂĄs queimar,
jĂĄ que em vĂŁo os fecho e os sumo;
e leve o volĂșvel ar,
de envolta como turvo fumo,
o teu furor de rimar.

Se tu de ferir nĂŁo cessas,
que serve ser bom o intento?
Mais carapuças não teças;
que importa dĂĄ-las ao vento,
se podem achar cabeças?

Tendo as sĂĄtiras por boas,
do Parnaso nos dois cumes
em hora negra revoas;
tu dĂĄs golpes nos costumes,
e cuidam que Ă© nas pessoas.

Deixa esquipar Inglaterra
cem naus de alterosa popa,
deixa regar sangue a terra.
Que te importa que na Europa
haja paz ou haja guerra?

Deixa que os bons e a gentalha
brigar ao Casaca vĂŁo,
e que, enquanto a turba ralha,
vĂĄ recebendo o balcĂŁo
os despojos da batalha.

Que tens tu que ornada histĂłria
diga que peitos ferinos,

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FarĂłis

FarĂłis distantes,
De luz subitamente tĂŁo acesa,
De noite e ausĂȘncia tĂŁo rapidamente volvida,
Na noite, no convĂ©s, que conseqĂŒĂȘncias aflitas!
MĂĄgoa Ășltima dos despedidos,
Ficção de pensar…

FarĂłis distantes…
Incerteza da vida…
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido…

FarĂłis distantes…
A vida de nada serve…
Pensar na vida de nada serve…
Pensar de pensar na vida de nada serve…

Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
FarĂłis distantes …

Em Defesa da LĂ­ngua Portuguesa

Desta audĂĄcia, Senhor, deste descĂŽco
Que entre nĂłs, sem limite, vai lavrando,
Quem mais sente as terrĂ­veis conseqĂŒĂȘncias
É a nossa portuguĂȘs, casta linguagem,
Que em tantas traduçÔes anda envasada
(TraduçÔes que merecem ser queimadas!)
Em mil termos e frases galicanas!
Ah! se, as marmĂłreas campas levantando,
SaĂ­ssem dos sepulcros, onde jazem
Suas honradas cinzas, os antigos
Lusitanos varÔes, que, com a pena

Ou com a espada e lança, a Påtria ornaram;
Os novos idiotismos escutando,
A mesclada dição, bastardos termos
Com que enfeitar intentam seus escritos
Estes novos, ridĂ­culos autores;

(Como se a bela e fértil língua nossa,
PrimogĂȘnita filha da Latina,
Precisasse de estranhos atavios)
SĂșbito, certamente pensariam
Que nos sertÔes estavam de Caconda,
Quilimane, Sofala ou Moçambique;
Até que, jå, por fim, desenganados

Que eram em Portugal, que os Portugueses
Eram também os que costumes, língua,
Por tĂŁo estranhos modos afrontaram,
Segunda vez, de pejo, morreriam.

Desfraldando ao Conjunto Fictício dos Céus estrelados

Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados
O esplendor do sentido nenhum da vida…

Toquem num arraial a marcha fĂșnebre minha!
Quero cessar sem consequĂȘncias…
Quero ir para a morte como para uma festa ao crepĂșsculo.

É InĂștil Tudo

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inĂștil dizer-me que as açÔes tĂȘm conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil eu saber que as açÔes usam conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo.

Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.

NĂŁo vem com a tarde oportunidade nenhuma.