Poemas Exclamativos de Pedro Homem de Melo

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Ironia

De tanto pensar na morte
Mais de cem vezes morri.
De tanto chamar a sorte
A sorte chamou-me a si.

Deu-me frutos duradoiros
A paz, a fortuna, o amor.
As musas vieram pĂŽr
Na minha fronte os seus loiros…

Hoje o meu sonho procura
Com saudade a poesia
Dos tempos em que eu sofria…

— Que triste coisa a ventura!

DivĂłrcio

Cidade muda, rente a meu lado,
Como um fantasma sob a neblina…
HĂĄ cem mil rostos. Tanto soldado
E tanto abraço desesperado
Nesta cidade tĂŁo masculina!

Cidade muda como um soldado.

Cidade cega. Todos os dias,
A nossa vida fica mais breve,
As nossas mĂŁos ficam mais frias…
Todos os dias, todos os dias,
A morte paga, paga a quem deve.

Cidade cega todos os dias.

Cidade oblĂ­qua. Sexo pesado.
Rio de cinza, lĂșgubre e lento…
Bandeira negra, barco parado,
Nunca o teu nome foi baptizado
Nem o teu beijo foi casamento!

Cidade minha, do meu pecado…

Cidade estranha, sabes que existo?
Os homens passam… Para onde vĂŁo?
SĂł tem amores quem nĂŁo for visto.
Por isso canto, sĂł porque insisto
Em dar combates à tentação.

Oh! a volĂșpia de nĂŁo ser visto!

Fuga

O mĂșsico procura
Fixar em cada verso
O cĂąntico disperso
Na luz, na ĂĄgua e no vento.

Porém, luz, vento e ågua
Variam riso e mĂĄgoa,
De momento a momento.

E em vĂŁo a ĂĄrea dos dedos
Se eleva! NĂŁo traduz
Os sĂșbitos segredos
Escondidos no vento,
Nas ĂĄguas e na luz…

InocĂȘncia

De um lado, a veste; o corpo, do outro lado,
LĂ­mpido, nu, intacto, sem defesa…
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, fica acesa!

Se traz os lĂĄbios hĂșmidos e lassos
É que a paixão sem mácula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.

Acre perfume o dessa flor agreste.
Álcool azul o desse verde vinho.
De um lado o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho…

Em frente hĂĄ um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguĂ©m passa… Ai! tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!

Dinheiro

Quem quiser ter filhos que doire primeiro
A jarra onde, inteira, caiba alguma flor!
Ai dos que tĂȘm filhos, mas nĂŁo tĂȘm herdeiro!
— Dinheiro! Dinheiro!
Ó canção de Amor!

As noivas sorriem, talvez, aos vinte anos.
Os amantes sonham… Sonho passageiro!
MĂșsica de estrelas: Ética de enganos;
IlusÔes, perdidas depois dos vinte anos..
E logo outras nascem: Dinheiro! Dinheiro!

Teus pais, teus irmĂŁos e tua mulher
CercarĂŁo teu leito de herĂłi derradeiro
(Ai de quem, ouvindo-os, nada lhes trouxer!)
E hĂŁo-de ali pedir-te o que o mundo quer:
— Dinheiro! Dinheiro!

Deixa-lhes os versos que um dia fizeste,
Amarrado ao lodo, porém verdadeiro.
E eles te dirão: — Pássaro celeste,
Morreste? Morrendo, que bem que fizeste!

Ó canção de amor!
Dinheiro! Dinheiro!