ConfissĂŁo
Meus lĂĄbios, meus olhos (a flor e o veludo…)
Minha ideia turva, minha voz sonora,
Meu corpo vestido, meu sonho desnudo…
Senhor confessor! Sabeis tudo â tudo!
Quanto o vulgo, ingénuo, ao saudar-me, ignora!Sabeis que em meus beijos a fome dormira
Antes que da orgia a fĂ© despertasse…
Sabeis que sem oiro o mundo Ă© mentira
E, como do fruto que Deus proibira,
Um luar tombou, manchando-me a face.PĂĄssaro, cativo da noite infinita!
Ăguia de asa inĂștil, pela noite presa!
Ă cruz dos poetas! Ăł noite infinita!
Ă palavra eterna! minha Ășnica escrita!
Beleza! Beleza! Beleza! Beleza!Eis as minhas mĂŁos! Quem pode prendĂȘ-las?
SĂŁo frĂĄgeis, mas nelas hĂĄ dedos inteiros.
Senhor confessor! Quem nĂŁo conta estrelas?
Meus dedos, um dia, contaram estrelas…
Quem conta as estrelas nĂŁo conta dinheiros!
Poemas sobre Fome de Pedro Homem de Melo
3 resultadosAmizade
Ser-se amigo Ă© ser-se pai
( â Ou mais do que pai talvez…)
Ă pĂŽr-se a boca onde cai
A nĂłdoa que nos desfez.Ă dar sem receber nada,
Consciente da prisĂŁo,
Onde os nossos passos vĂŁo
Em linha por nĂłs traçada…Ă saber que nos consome
A sede, e sentirmos bem
O Céu, por na Terra, alguém
Rir, cantar e nĂŁo ter fome.Ă aceitar a mentira
E achĂĄ-la formosa e humana
SĂł porque a gente respira
O ar de quem nos engana.
PressĂĄgio
Ela hĂĄ-de vir como um punhal silente
Cravar-se para sempre no meu peito.
Podem os deuses rir na hora presente
Que ela hĂĄ-de vir como um punhal direito.
Cubram-me lutos, sordidez e chagas!
Também rubis das minhas mãos morenas!
Rasguem-se os véus do leito em que me afagas!
â A coroa de ferro Ă© cinza apenas…
E ela hĂĄ-de vir a lepra que receio
E cuja sombra, aos poucos me consome.
Ela hĂĄ-de vir, maior que a sede e a fome,
Ela hĂĄ-de vir, a dor que ainda nĂŁo veio.