O Infecundo Abismo
De novo traz as aparentes novas
Flores o verĂŁo novo, e novamente
Verdesce a cor antiga
Das folhas redivivas.
NĂŁo mais, nĂŁo mais dele o infecundo abismo,
Que mudo sorve o que mal somos, torna
Ă€ clara luz superna
A presença vivida.
NĂŁo mais; e a prole a que, pensando, dera
A vida da razĂŁo, em vĂŁo o chama,
Que as nove chaves fecham,
Da Estige irreversĂvel.
O que foi como um deus entre os que cantam,
O que do Olimpo as vozes, que chamavam,
‘Scutando ouviu, e, ouvindo,
Entendeu, hoje Ă© nada.
Tecei embora as, que teceis, Grinaldas.
Quem coroais, nĂŁo coroando a ele?
Votivas as deponde,
FĂşnebres sem ter culto.
Fique, porém, livre da leiva e do Orco,
A fama; e tu, que Ulisses erigira,
Tu, em teus sete montes,
Orgulha-te materna,
Igual, desde ele Ă s sete que contendem
Cidades por Homero, ou alcaica Lesbos,
Ou heptápila Tebas
OgĂgia mĂŁe de PĂndaro.
Poemas sobre Folhas de Ricardo Reis
5 resultadosCoroai-me de Rosas
Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade,
De rosas —Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
TĂŁo cedo!Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.
Passamos e Agitamo-nos Debalde
Antes de nĂłs nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas nĂŁo falavam
De outro modo do que hoje.Passamos e agitamo-nos debalde.
NĂŁo fazemos mais ruĂdo no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.Tentemos pois com abandono assĂduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E nĂŁo querer mais vida
Que a das árvores verdes.Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nĂłs nada pelo mundo fora
Nos saĂşda a grandeza
Nem sem querer nos serve.Se aqui, Ă beira-mar, o meu indĂcio
Na areia o mar com ondas trĂŞs o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar Ă© o Tempo?
Prefiro Rosas, meu Amor, à Pátria
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnĂłlias amo
Que a glĂłria e a virtude.Logo que a vida me nĂŁo canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,Se cada ano com a primavera
As folhas aparecem
E com o outono cessam?E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam Ă vida,
Que me aumentam na alma?Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.
Quando, LĂdia, Vier o Nosso Outono
Quando, LĂdia, vier o nosso outono
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, nĂŁo para a futura
Primavera, que Ă© de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
SenĂŁo para o que fica do que passa
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.