Cada Coisa a seu Tempo Tem seu Tempo
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
NĂŁo florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
TĂŞm branco frio os campos.Ă€ noite, que entra, nĂŁo pertence, LĂdia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.Ă€ lareira, cansados nĂŁo da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
NĂŁo puxemos a voz
Acima de um segredo,E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscĂŞncia
(NĂŁo para mais nos serve
A negra ida do Sol) —Pouco a pouco o passado recordemos
E as histĂłrias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falemDas flores que na nossa infância ida
Com outra consciĂŞncia nĂłs colhĂamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.E assim, LĂdia, Ă lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compĂşnhamosNesse desassossego que o descanso
Nos traz Ă s vidas quando sĂł pensamos
Naquilo que já fomos,
Poemas sobre Inverno de Ricardo Reis
5 resultadosO que Sentimos Ă© o que Temos
O que sentimos, nĂŁo o que Ă© sentido,
É o que temos.
Claro, o inverno triste
Como Ă sorte o acolhamos.
Haja inverno na terra, nĂŁo na mente.
E, amor a amor, ou livro a livro, amemos
Nossa caveira breve.
Sereno e Vendo a Vida à Distância a que Está
A palidez do dia Ă© levemente dourada.
O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas
Dos troncos de ramos Secos.
O frio leve treme.Desterrado da pátria antiquĂssima da minha crença,
Consolado sĂł por pensar nos deuses,
Aqueço-me trémulo
A outro sol do que este.O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole
O que alumiava os passos lentos e graves
De AristĂłteles falando.
Mas Epicuro melhorMe fala, com a sua cariciosa voz terrestre
Tendo para os deuses uma atitude também de deus,
Sereno e vendo a vida
À distância a que está.
No Ciclo Eterno das Mudáveis Coisas
No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno apĂłs novo outono volve
Ă€ diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da Ăndole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De nĂŁo mudar-me, me infiel renovo
Aos propĂłsitos mudos
Morituros e infindos.
Quando, LĂdia, Vier o Nosso Outono
Quando, LĂdia, vier o nosso outono
Com o inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, nĂŁo para a futura
Primavera, que Ă© de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
SenĂŁo para o que fica do que passa
O amarelo atual que as folhas vivem
E as torna diferentes.