Somos Estrangeiros Onde quer que Estejamos
LĂdia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde que quer que estejamos.LĂdia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, tudo Ă© alheio
Nem fala lĂngua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tĂmidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que nĂŁo ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
Poemas sobre Segredos de Ricardo Reis
4 resultadosCada Coisa a seu Tempo Tem seu Tempo
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
NĂŁo florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
TĂȘm branco frio os campos.Ă noite, que entra, nĂŁo pertence, LĂdia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.Ă lareira, cansados nĂŁo da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
NĂŁo puxemos a voz
Acima de um segredo,E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscĂȘncia
(NĂŁo para mais nos serve
A negra ida do Sol) âPouco a pouco o passado recordemos
E as histĂłrias contadas no passado
Agora duas vezes
HistĂłrias, que nos falemDas flores que na nossa infĂąncia ida
Com outra consciĂȘncia nĂłs colhĂamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.E assim, LĂdia, Ă lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compÔe roupas
O outrora compĂșnhamosNesse desassossego que o descanso
Nos traz Ă s vidas quando sĂł pensamos
Naquilo que jĂĄ fomos,
Inutilmente Parecemos Grandes
O mar jaz; gemem em segredo os ventos
Em Eolo cativos;
SĂł com as pontas do tridente as vastas
Ăguas franze Netuno;
E a praia Ă© alva e cheia de pequenos
Brilhos sob o sol claro.
Inutilmente parecemos grandes.
Nada, no alheio mundo,
Nossa vista grandeza reconhece
Ou com razĂŁo nos serve.
Se aqui de um manso mar meu fundo indĂcio
TrĂȘs ondas o apagam,
Que me farĂĄ o mar que na atra praia
Ecoa de Saturno?
Lenta, Descansa a Onda que a Maré Deixa
Lenta, descansa a onda que a maré deixa.
Pesada cede. Tudo Ă© sossegado.
SĂł o que Ă© de homem se ouve.
Cresce a vinda da lua.Nesta hora, LĂdia ou Neera ou Cloe,
Qualquer de vĂłs me Ă© estranha, que me inclino
Para o segredo dito
Pelo silĂȘncio incerto.Tomo nas mĂŁos, como caveira, ou chave
De supérfluo sepulcro, o meu destino,
E ignaro o aborreço
Sem coração que o sinta.