Poemas sobre Fome de Alberto Caeiro

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Poemas de fome de Alberto Caeiro. Leia este e outros poemas de Alberto Caeiro em Poetris.

O Pregador de Verdades

Ontem o pregador de verdades dele
Falou outra vez comigo.
Falou do sofrimento das classes que trabalham
(NĂŁo do das pessoas que sofrem, que Ă© afinal quem sofre).
Falou da injustiça de uns terem dinheiro,
E de outros terem fome, que nĂŁo sei se Ă© fome de comer.
Ou se Ă© sĂł fome da sobremesa alheia.
Falou de tudo quanto pudesse fazĂȘ-lo zangar-se.

Ontem Ă  Tarde um Homem das Cidades

Ontem Ă  tarde um homem das cidades
Falava Ă  porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operĂĄrios que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que tĂȘm fome,
E dos ricos, que sĂł tĂȘm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lĂĄgrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O Ăłdio que ele sentia, e a compaixĂŁo
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supÔem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais Ă© perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lågrimas),
Era em como o murmĂșrio longĂ­nquo dos chocalhos
A esse entardecer
NĂŁo parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem Ă  missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.

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