O Segredo do Mar
A “Flor do Mar” avançando
Navegava, navegava,
Lá para onde se via
O vulto que ela buscava.Era tĂŁo grande, tĂŁo grande
Que a vista toda tapava.E Bartolomeu erguido
Aos marinheiros bradava
Que ninguém tivesse medo
Do gigante que ali estava.E mais perto agora estĂŁo
Do que procurando vĂŁo!Bartolomeu que viu?
Que descobriu o valente?
– Que o gigante era um penedo
que tinha forma de gente?Que era dantes o mar? Um quarto escuro
Onde os meninos tinham medo de ir.
Agora o mar Ă© livre e Ă© seguro
E foi um portuguĂŞs que o foi abrir.
Poemas Interrogativos de Afonso Lopes Vieira
3 resultadosO Sapo
Não há jardineiro assim,
Não há hortelão melhor
Para uma horta ou jardim,
Para os tratar com amor.É o guarda das flores belas,
da horta mais do pomar;
e enquanto brilham estrelas,
lá anda ele a rondar…Que faz ele? Anda a caçar
os bichos destruidores
que adoecem o pomar
e fazem tristes as flores.Por isso, ficam zangadas
as flores, se se faz mal
a quem as traz tĂŁo guardadas
com o seu cuidado leal.E ele guarda as flores belas,
a horta mais o pomar;
brilham no céu as estrelas,
e ele ronda, a trabalhar…E ao pobre sapo, que Ă© cheio
de amor pela terra amiga,
dizem-lhe que Ă© feio
e há quem o mate e persigaMas as flores ficam zangadas,
choram, e dizem por fim:
– «EntĂŁo ele traz-nos guardadas,
e depois pagam-lhe assim?»E vendo, à noite, passar
o sapo cheio de medo,
as flores, para o consolar,
chamam-lhe lindo, em segredo…
Saudades Trágico-MarĂtimas
Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Na praia, de bruços,
fico sonhando, fico-me escutando
o que em mim sonha e lembra e chora alguém;
e oiço nesta alma minha
um longĂnquo rumor de ladainha,
e soluços,
de alĂ©m…Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
SĂŁo meus AvĂłs rezando,
que andaram navegando e que se foram,
olhando todos os céus;
sĂŁo eles que em mim choram
seu fundo e longo adeus,
e rezam na ânsia crua dos naufrágios;
choram de longe em mim, e eu oiço-os bem,
choram ao longe em mim sinas, presságios,
de alĂ©m, de alĂ©m…Chora no ritmo do meu sangue, o Mar.
Naufraguei cem vezes já…
Uma, foi na nau S. Bento,
e vi morrer, no trágico tormento,
Dona Leonor de Sá:
vi-a nua, na praia áspera e feia,
com os olhos implorando
– olhos de esposa e mĂŁe –
e vi-a, seus cabelos desatando,
cavar a sua cova e enterrar-se na areia.
– E sozinho me fui pela praia alĂ©m…