Cantiga do Campo
Por que andas tu mal commigo?
脫 minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!Quando entre as mais raparigas
Vaes cantando entre as searas,
Eu choro ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noutes claras!Os que andam na descamisa
Gabam a violla tua,
Que, 谩s vezes, ou莽o na brisa
Pelos serenos da lua.E fallam com tristes vozes
Do teu amor singular
脕quella casa onde cozes,
Com varanda para o mar.Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!E andar comtigo, 贸 meu pomo,
Exposto 谩s chuvas e aos soes!
E uma noute morrer como
Se morrem os rouxinoes!Morrer chorando, n’um choro
Que mais as magoas consolla,
Levando s贸 o thesouro
Da nossa triste violla!Por que andas tu mal commigo?
脫 minha doce trigueira?
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Poemas Interrogativos de Ant贸nio Gomes Leal
4 resultadosAquella Orgia
N贸s eramos uns dez ou onze convidados,
– Todos buscando o gozo e achando o abatimento,
E todos afinal vencidos e quebrados
No combate da Vida inutil e incruento.Tocava o termo a ceia – e ia surgindo o alvor
Da madrugada vaga, etherea e crystallina,
A alguns trazendo a vida, e enchendo outros de horor,
Branca como uma flor de prata florentina.Todos riam sem causa. – A estolida batalha
Da Materia e da Luz travara-se afinal,
E eram j谩 c么r de vinho os risos e a toalha,
– E arrojavam-se ao ar os copos de crystal.Crusavam-se no ar ditos como facadas;
Escandalos de amor, historias sensuaes…
– Rolavam nos divans caindo, 谩s gargalhadas,
Sujos como tru玫es, torpes como animaes.Um agitando o ar com risos desmanchados,
Recitava can莽玫es, far莽as, Hamlet e Ophelia;
– Outro perdido o olhar, e os bra莽os encruzados,
De bru莽os, n’um divan, roia uma camelia!Outros fingindo a d么r, fallavam dos ausentes,
Das amantes, dos paes, com gritos d’afflic莽茫o,
– Um brandia um punhal, com ditos incoherentes;
O Mundo Velho
Nas crises d’este tempo desgra莽ado,
Quando nos pomos tristes a espalhar
Os olhos pela historia do passado…
Quem n茫o ver谩, contente ou consternado,
– Mundo velho que est谩s a desabar – ?!…Sim tu est谩s a morrer, vil socio antigo…
E Pae de nossos vicios e paix玫es!
Camarada dos crimes, torpe amigo…
– Morre, emfim, correr谩 no teu jazigo,
Em vez de vinho, o sangue das na莽玫es!Deves morrer, provecto criminoso!
Tens vivido de mais, vil sensual!
Tu est谩s velho, cansado e desgostoso,
E, como um velho principe gotoso,
Ris, cruelmente, 谩s sensa莽玫es do mal.– Que 茅 feito do teu Deus, do teu Direito?
– Onde est茫o as vis玫es dos teus prophetas?
– Quem te deu esse orgulho satisfeito?
Muribundo Caiphaz, junto ao teu leito,
Morrem, debalde, os gritos dos poetas!No tempo em que eras forte, foi teu bra莽o
Que apunhalou os grandes ideaes!…
Hoje est谩s gordo, sensural, devasso,
E andas, torpe a rir, como um palha莽o,
N’um circulo lusente de punhaes.Tu tens vendido os justos no mercado!
Mysticismo Humano
A alma 茅 como a noute escura, immensa e azul,
Tem o vago, o sinistro, e os canticos do sul,
Como os cantos d’amor serenos das ceifeiras
Que cantam ao luar, 谩 noute pelas eiras…
脕s vezes vem a nevoa 谩 alma satisfeita,
E cae sombria, vaga, e meuda e desfeita…
E como a folha morta em lagos somnolentos
As nossas illus玫es v茫o-se nos desalentos!Tem um poder immenso as Cousas na tristeza!
Homem! conheces tu o que 茅 a natureza?…
– 脡 tudo o que nos cerca – 茅 o azul, o escuro,
脡 o cypreste esguio, a planta, o cedro duro,
A folha, o tronco a flor, os ramos friorentos,
脡 a floresta espessa esguedelhada aos ventos;
N茫o entra o vicio aqui com beijos dissolutos,
Nem as lendas do mal, nem os choros dos lutos!…– E os que viram passar serenos os seus dias…
E curvados se v茫o, 谩s longas ventanias,
Cheio o peito de sol, atravez das florestas,
脕 calma do meio dia… e dormiam as sestas,
Tranquillos sobre a eira, entre as hervas nas leivas…