Poemas Interrogativos de Stella Leonardos da Silva Lima Cabassa

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O que se Ă© Vem Ă  Flor?

“NĂŁo, nĂŁo digas nada” Fernando Pessoa

Melhor seria nĂŁo dizer-te nada
já que as palavras se frustram, Pessoa
– ai! onde as pás sutis e as virgens lavras
do ver de terna fala entre as criaturas?
Já que as palavras nos frustram, pessoas
perdidas no universo das palavras
– ai tempos de durames sem ternuras! –
melhor seria nĂŁo dizer-te nada.
Calo. Do teu silĂŞncio aflora a fala
desse verde essencial – cerne, mensagem,
viva raiz-mistério da linguagem.
Na força de não ter dito o que mais cala.

Coda

Inútil escapar. A presença perdura.
Desde que sinto chĂŁo
ou de verde
ou de pedra

Ă© teu rastro que encontro e encontro em ti meu chĂŁo.

E quando te pressinto
o de verde Ă© mais terno
e o de mais dura pedra
um sensível durâmen.

Tu que arrancas até da rocha viva o sangue,
tu que vens pela foz destes veios de eu te amo:
— Em que século, amor, nossas almas se fundem?
Em que terra?

Através de que mar? Ah que céu
velho céu já chorou por nós — perdidos cúmulos —
guaiando em nosso mundo impossĂ­veis azuis?
E desde quando o amor se abriu aos nossos olhos?
De que abrolhos e sal de amar nos marejou?

Em meu solo Ă©s madeiro
e nave
e asa que sonha.
Em todo canto te acho e onde Ă© teu canto eu sou.

Do Aprendiz de Escultor

Existe uma voz na pedra?

Lá no alto daquela pedra
mora um colomi de pedra
chamado Itacolomi.
O colomi, lá da pedra
me fala: – NĂŁo queiras ouro.
Menino, teu ouro Ă© outro.
Escuta, AntĂ´nio Francisco,
tuas mĂŁos querem lavrar.
Procura tornar mais que ouro
a pedra que te encontrar.

Existe voz na madeira?

Lá do alto daquela igreja
vive uma cruz de madeira,
a mais alta que já vi.
A cruz, lá do alto, me fala:
— Escuta, Antônio Francisco,
nĂŁo te coube em Vila Rica
muita lenha. Coube lenho
e mĂŁos que querem talhar.
Procura tornar madeiro
a madeira que te achar.