Adormecer
O barco parte em silĂŞncio
a alma Ă© aventura
navegar
sem cartas         sem rumo
e desta viagem nocturna
que notĂcias nĂŁo direi sequer a mim
[mesmo?
Poemas de José Paulo Moreira da Fonseca
5 resultadosA Avidez da Morte
Quem nos contará
o que o morto sabia
mas nĂŁo disse?
Quem há-de escrever as cartas
que o morto nĂŁo escreveu?
Qual de nós poderá lembrar-se
de quem só o morto ainda tinha lembrança?
Quem amará a mulher que apenas o morto amava?Quem há-de medir o vazio,
a herança de silêncio
que a Morte nos deixou?
Tiradentes
Quando uma ideia Ă© sangue
Somos um sĂł. Nela eu vivo e ela em mim,
Jamais poderĂŁo separar-nos,
Mesmo abandonando Ă rosa dos ventos
Meu corpo dividido.
Balança
O muito que me recusam,
dá-me o poema
em seu corpo de ar.A alma faz o que nĂŁo existe
e da sombra pousada sobre os olhos
vai desenhando a figura além do alcance das mãos.É pouco, é bastante,
Ă© um ter sem que se tenha,
um tempo que parece nĂŁo passar
pois que nada acontecendo,
nada Ă© destruĂdo.
Renascimento
Quando tudo te parece perdido
escuta a vida
o silêncio da vida murmurando —
poderei sorver minha seiva
sob o áspero pĂł das ruĂnas