Poemas sobre Lágrimas de Fernando Namora

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Poemas de lágrimas de Fernando Namora. Leia este e outros poemas de Fernando Namora em Poetris.

Alheamento

Meu corpo estiraçado, lânguido, ao logo do leito.

O cigarro vago azulando os meus dedos.

O rádio… a mĂşsica…

A tua presença que esvoaça
em torno do cigarro, do ar, da mĂşsica…

AusĂŞncia!, minha doce fuga!

Estranha coisa esta, a poesia,
que vai entornando mágoa nas horas
como um orvalho de lágrimas, escorrendo dos vidros
duma janela,

numa tarde vaga, vaga…

Poema Cansado de Certos Momentos

Foi-se tudo
como areia fina escoada pelos dedos.
MĂŁe! aqui me tens,
metade de mim,
sem saber que metade me pertence.
Aqui me tens,
de gestos saqueados,
onde resta a saudade de ti
e do teu mundo de medos.
Meus braços, vê-os, estão gastos
de pedir luz
e de roubar distâncias.
Meus braços
cruzados
em cruz de calvário dos meus degredos.
Ai que isto de correr pela vida,
dissipando a riqueza que me deste,
de levar em cada beijo
a pureza que pariste e embalaste,
ai, mĂŁe, sĂł um louco ou um Messias
estendendo a face de justo

para os homens cuspirem o fel das veias,
sĂł um louco, ou um poeta ou um Cristo
poderá beijar as rosas que os espinhos sangram
e, embora rasgado, beber o perfume
e continuar cantando.
MĂŁe! tu nunca previste
as geadas e os bichos
roendo os campos adubados
e o vizinho largando a fĂşria dos rebanhos
pela flor menina dos meus prados.
E assim, geraste-me despido
como as ervas,
e nĂŁo olhaste os pegos nem as cobras,

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Todos os Caminhos me Servem

Todos os caminhos me servem.
Em todos serei o Ă©brio
cabeceando nas esquinas.
Uma rua deserta e o hálito
das pessoas que se escondem,
uma rua deserta e um rafeiro
por companheiro.

Ă“ mar que me sacode os cabelos
que mulher alguma beijou,
lágrimas que os meus olhos vertem
no suor dos lagares,
que uma onda vos misture
e vos leve a morrer
numa praia ignorada.