Poemas sobre Luz de Casimiro de Brito

5 resultados
Poemas de luz de Casimiro de Brito. Leia este e outros poemas de Casimiro de Brito em Poetris.

Tempo Revisitado

O tempo a que sempre regressamos
e nos visita um instante

O tempo que depois destruĂ­mos
construĂ­mos e ali-
mentamos se nos
alimenta

O tempo onde a luz buscamos e
a morte sempre
encontramos

Tal a Vida

Em declive trepamos pela nuvem
dos dias — em declive circundamos
obscuros cristais
transportados no sangue— e somos e
levantamos
as cores primitivas da fonte a luz
que resvala corpo a corpo
a semente sazonada de quem roubou
o fogo — em declive canto
a ternura diluĂ­da a luz reflectida
neste muro onde vejo
a secreção da fala onde ouço
um caminho de metáforas: tal
a vida —

Estar no Mundo

Ao corpo colados a silenciosas
colunas de sal pavimentados eis os muros
paralelos eis as rápidas deformações da
linguagem (cálido ascetismo)
de quem arde por dentro — estar no mundo
Ă© teu caminho estar na cĂłlera
lavrada
e sobre si mesma dobrada e a guerra
mastigar a morte seca a subalimentada
explosão do corpo deformações suicídio
quotidiano — tal a poesia
se reflecte na luz a erosĂŁo do poema
o apodrece e movimenta— cinza mineral
entre restos de música e pão —

Nossa MemĂłria

Nossa memĂłria sempre foi a memĂłria
dos monstros nosso enigmático testamento
de altas labaredas sempre foi
o caminho
devastado pelo sangue pela circuncisa memĂłria
dos mortos pelo perfil
dos astros — nossa colorida volúpia
sempre foi dos monstros
a mais crua linguagem hĂşmida fuga
desolada
através do tempo através do medo
de nĂŁo sermos belos de nĂŁo sabermos
esculpir na cinza o sopro
de tanta luz tão prostituída —

Do Poema

O problema nĂŁo Ă©
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tĂŁo-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e Ă  morte, ao sol, ao vĂ­cio,
aos corpos nus dos amantes —

o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais sĂł
do que as palavras
acompanhadas
no poema.