Entardecer

Sol-posto ungindo o mar: incensos de ouro!

Recolhe funda a tarde em sonho e mĂĄgoa.
Surdina fluida: anda o silĂȘncio a orar –
E hĂĄ crepĂșsculos de asas e, na ĂĄgua,
O céu é mårmore extåtico a cismar!

E nas faces marmĂłreas dos rochedos
Esboçam-se perfis,
– CintilaçÔes,
Penumbra de segredos!

Ó painĂ©is de nuvens sobre a terra,
Ogivas delirantes
Na água refractando

Encheis de sombra o mar de espumas rasas,
Iniciando
A hora pĂąnica das asas!

E, Ă  meia luz da tarde,
Na areia requeimada,
SĂŁo vultos sonolentos
As proas dos navios


Ó tristeza dos balĂ”es
Iluminando,
Na ĂĄgua prateada,
Os pegos e baixios


Dormentes constelaçÔes
Que, em fundos lacustres
E musgosos,
Pondes reverberaçÔes
Em nossos olhos ansiosos.

Ó tardes de aquático esplendor,
Descendo em meu olhar!

Num sonho de regresso,
Numa Ăąnsia de voltar,
Em mim todo me esqueço
E fico-me a cismar.

A tarde Ă© toda um sonho moribundo.
É já olor da cor que amorteceu.

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