Poemas sobre Mar de Cruzeiro Seixas

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Poema da Profundidade Horizontal

Pintem uma paisagem dentro de outra
porque nisso está a verdade.
Olhem como avançam cautelosamente
pela falésia a pique;
uma curta aprendizagem
na agulha da torre
bastou.
Olho-te como para uma lente de aumentar,
uma luz para mais iluminar,
como se fosses antes de haver luz
uma pedra preciosa,
a causa das guerras:
dorme sobre os joelhos
e sente
revir ao mesmo tempo
automaticamente
os braços superiores laterais
enferrujados,
como a luz do velho farol.
Beija os dez cães que há dentro de um cão vadio,
os cem homens que há dentro de um homem,
de tal maneira que
o ar fique em chamas
e seja a única salvação
a mĂŁo do mar eternamente
na nossa fronte.

A Tua Boca Adormeceu

A tua boca adormeceu
parece um cais muito antigo
Ă  volta da minha boca.

Mas as palavras querem voltar Ă  terra
ao fogo do silêncio que sustém as pontes
perdidas na sua prĂłpria sombra.

E há um cão de pedra como um fruto
que nos cobre com o seu uivo
enquanto pássaros de ouro com mãos de marfim
transplantam as árvores transparentes
para o ponto mais fundo do mar.

As lágrimas que não chorei
arrependidas
fazem transbordar a eterna agonia do mar
como um lençol fúnebre
com que tivesse alguém coberto o rosto metafórico
dos cinco continentes que em nĂłs existem.

Assim Ă© ao mesmo tempo
que sou eu e nĂŁo o sou
aquele relĂłgio das horas de ouro
que além flutua.

Era um Pássaro Alto

Era um pássaro alto como um mapa
e que devorava o azul
como nĂłs devoramos o nosso amor.

Era a sombra de uma mĂŁo sozinha
num espaço impossivelmente vasto
perdido na sua prĂłpria extensĂŁo.

Era a chegada de uma muito longa viagem
diante de uma porta de sal
dentro de um pequeno diamante.

Era um arranha-céus
regressado do fundo do mar.

Era um mar em forma de serpente
dentro da sombra de um lĂ­rio.

Era a areia e o vento
como escravos
atados por dentro ao azul do luar.