Poemas sobre Medo de Manuel da Fonseca

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Poemas de medo de Manuel da Fonseca. Leia este e outros poemas de Manuel da Fonseca em Poetris.

Poemas da Infância

Segundo

Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, Ă  tarde, brincar comigo?…
… Como nasci poeta
devia ter sido muito antes que as mĂŁes se apercebessem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, nĂŁo sei ao certo.

Mas a histĂłria dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
TĂŁo grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossĂ­veis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.

E desafiava,
sem razĂŁo aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tĂŁo certeira
que levou o chapéu do Senhor Administrador!

Em toda a vila
se falou logo num caso de polĂ­tica;
o Senhor Administrador
mandou vir da cidade uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o cĂ©u…

Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!

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Vida

Vida:
sensualĂ­ssima mulher de carnes maravilhosas
cujos passos sĂŁo horas
cadenciadas
rĂ­tmicas
fatais.
A cada movimento do teu corpo
dispersam asas de desejos
que me roçam a pele
e encrespam os nervos na alucinação do «nunca mais».
Vou seguindo teus passos
lutando e sofrendo
cantando e chorando
e ficam abertos meus braços:
nunca te alcanço!
Meu suplício de Tântalo.
Envelheço…
E tu, Vida, cada vez mais viçosa
na oscilação nervosa
das tuas ancas fecundas e sempre virgens!
Ă€ punhalada dilacero a folhagem
e abro clareiras
na floresta milenária do meu caminho.
Humildemente se rasga e avilta
no roçar dos espinhos
minha carne dorida.
E quando julgo chegada a hora
meu abraço de posse fica escancarado no ar!
OlĂ­mpica
firme
gloriosa
tu passas e não te alcanço, Vida.
Caio suado de borco
no lodo…
O vento da noite badala nos ramos
sarcasmos canalhas.
NĂŁo avisto a vida!
Tenho medo, grito.
Creio em Deus e nos fantásticos ecos
do meu grito
que vĂŞm de longe e de perto
do sul e do norte
que me envolvem
e esmagam:
— maldita selva,

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