Poemas sobre Montes de Ricardo Reis

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Nada Nos Falta, porque Nada Somos

Ao longe os montes tĂȘm neve ao sol,
Mas Ă© suave jĂĄ o frio calmo
Que alisa e agudece
Os dardos do sol alto.

Hoje, Neera, nĂŁo nos escondamos,
Nada nos falta, porque nada somos.
NĂŁo esperamos nada
E temos frio ao sol.

Mas tal como Ă©, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando a morte
Como quem a conhece.

Que Pesa o EscrĂșpulo do Pensamento?

Azuis os montes que estĂŁo longe param.
De eles a mim o vĂĄrio campo ao vento, Ă  brisa,
Ou verde ou amarelo ou variegado,
Ondula incertamente.
DĂ©bil como uma haste de papoila
Me suporta o momento. Nada quero.
Que pesa o escrĂșpulo do pensamento
Na balança da vida?
Como os campos, e vĂĄrio, e como eles,
Exterior a mim, me entrego, filho
Ignorado do Caos e da Noite
Às fĂ©rias em que existo.

O Infecundo Abismo

De novo traz as aparentes novas
Flores o verĂŁo novo, e novamente
Verdesce a cor antiga
Das folhas redivivas.
NĂŁo mais, nĂŁo mais dele o infecundo abismo,
Que mudo sorve o que mal somos, torna
À clara luz superna
A presença vivida.
NĂŁo mais; e a prole a que, pensando, dera
A vida da razĂŁo, em vĂŁo o chama,
Que as nove chaves fecham,
Da Estige irreversĂ­vel.
O que foi como um deus entre os que cantam,
O que do Olimpo as vozes, que chamavam,
‘Scutando ouviu, e, ouvindo,
Entendeu, hoje Ă© nada.
Tecei embora as, que teceis, Grinaldas.
Quem coroais, nĂŁo coroando a ele?
Votivas as deponde,
FĂșnebres sem ter culto.
Fique, porém, livre da leiva e do Orco,
A fama; e tu, que Ulisses erigira,
Tu, em teus sete montes,
Orgulha-te materna,
Igual, desde ele Ă s sete que contendem
Cidades por Homero, ou alcaica Lesbos,
Ou heptĂĄpila Tebas
OgĂ­gia mĂŁe de PĂ­ndaro.