Poemas sobre Mudança

28 resultados
Poemas de mudança escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Eu Escrevi um Poema Triste

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
NĂŁo vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto Ă  correnteza,
Olhando as horas tĂŁo breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Antre Tremor e Desejo

Antre tremor e desejo,
Vã espernça e vã dor,
Antre amor e desamor,
Meu triste coração vejo.

Nestes extremos cativo
Ando sem fazer mudança,
E já vivi d’esperança
E agora vivo de choro vivo.
Contra mi mesmo pelejo,
Vem d’ua dor outra dor
E d’um desejo maior
Nasce outro mor desejo.

Essa Chuva de Inverno

Essa chuva de inverno, que fluĂ­a
por entre a verde várzea derramada,
já não flui sua linfa em terra fria,
que quente está do sal de que é salgada.
Aqui eterna Ă© a chuva, e nĂŁo se adia,
e a mudança das coisas proclamada:
só a terra de fértil não vê dia,
que só a água em mágoa vê mudada.
Aqui, de malogradas esperanças,
vive o povo sem crença em tais mudanças,
no fecundo milagre dessa guerra
— que, estando a Natureza em guerra tanta,
nĂŁo nos transforma a chuva o pranto em planta,
e mais se chore, Ă© mais salgada a terra!

Ă“ Meus Castelos de Vento

Ă“ meus castelos de vento
que em tal cuita me pusestes,
como me vos desfizestes!

Armei castelos erguidos,
esteve a fortuna queda,
e disse:– Gostos perdidos,
como is a dar tĂŁo grĂŁ queda!
Mas, oh! fraco entendimento!
em que parte vos pusestes
que entĂŁo me nĂŁo socorrestes?

CaĂ­stes-me tĂŁo asinha
caíram as esperanças;
isto não foram mudanças,
mas foram a morte minha.
Castelos sem fundamento,
quanto que me prometestes.
quanto que me falecestes!

NĂŁo Sou Casado, Senhora

NĂŁo sou casado, senhora,
que ainda nĂŁo dei a mĂŁo,
não casei o coração.

Antes que vos conhecesse,
sem errar contra vĂłs nada,
uma sĂł mĂŁo fiz casada,
sem que mais nisso metesse.
Dou-lhe que ela se perdesse!
solteiros e vossos sĂŁo
os olhos e o coração.

Dizem que o bom casamento
se há de fazer de vontade.
Eu, a vĂłs, a liberdade
vos dei, e o pensamento.
Nisto sĂł me achei contento:
que, se a outrem dei a mĂŁo,
dei a vós o coração.

Como, senhora, vos vi,
sem palavras de presente
na alma vos recebi,
onde estareis para sempre,
nĂŁo de palavra somente;
nem fiz mais que dar a mĂŁo,
guardando-vos o coração.

Casei-me com meu cuidado
e com vosso desejar.
Senhora, nĂŁo sou casado,
nĂŁo mo queirais acuitar!
que servir-vos e amar
me nasceu do coração
que tendes em vossa mĂŁo.

O casar não fez mudança
em meu antigo cuidado,
nem me negou a esperança
do galardĂŁo esperado.

Continue lendo…

Meteu-me Amor em seu Trato

Meteu-me Amor em seu trato,
Pôs-me os seus gostos na praça,
Quanto quis me deu de graça.
Mas Ă© caro o seu barato.

Amor, que quis que tivesse
Os males por seu querer,
Deu menos bem, que escolhesse,
Para que quando os perdesse
Tivesse mais que perder.
Depois que em minha esperança
Me viu contra o tempo ingrato
Viver livre da mudança
Por tão grande confiança
Meteu-me Amor em seu trato.

Vi eu logo que convinha
Dar melhor conta do seu
Do que dei da vida minha:
Deixei perder quanto tinha
Por guardar o que me deu.
O desejo e o temor,
A fé, a vontade, a graça,
Tudo pus na mĂŁo de Amor.
Ele que Ă© mais mercador
Pôs-me seus gostos na praça.

Entendeu que nĂŁo sabia
A valia do interesse
Que eu dele entĂŁo pretendia:
Perguntou-me o que queria
Antes que nada me desse.
Eu, que nĂŁo soube o que fiz,
Quis um desprezo e negaça,
Quis uns desdéns senhoris,
E por ser graça o que quis.

Continue lendo…

Só os Lábios Respiram

Só os lábios respiram. Simples gesto vivo,
exĂ­lio do som onde se oculta o pavor da
palavra, pátria salgada cerrada no vazio
da casa de velhos deuses ávidos de preces.
Na garra da águia se fecha e rompe a boca,
templo e entranha, prodĂ­gio e anel
do eco, sinal esparso do caĂ­do concerto
da vida. Por estes soberbos montes, estas
rasas colinas, estas águas circulantes,
vai o grito da cegueira, o delĂ­rio lasso
na manhĂŁ, a saciada loucura do escuro
nome nocturno. Como um fragor dos céus,
caminha o canto agudo das árduas cigarras
perseguindo a funesta morte. Por esta
paisagem parda, que lábios me guardam
do próximo desastre, a mudança em ave,
cio ou sal, erva ou peixe, cicatriz ou
mito, veia ou água? Que lábios respiram
na coisa mortal que serei apĂłs o termo
da eterna efemeridade deste meu corpo,
coma de luz, deste desejo, rijo resĂ­duo,
deste pensamento, disfarce ou máscara,
deste rapto do tempo, deste
coração que começa?

Lembre-vos quão sem Mudança

Lembre-vos quão sem mudança,
Senhora, Ă© meu querer,
perdida toda esperança;
e de mim vossa lembrança
nunca se pode perder.
Lembre-vos quĂŁo sem por quĂŞ
desconhecido me vejo;
e, com tudo, minha fé
sempre com vossa mercĂŞ,
com mais crecido desejo.

Lembre-vos que se passaram
muitos tempos, muitos dias,
todos meus bens se acabaram,
com tudo, nunca mudaram;
querer-vos, minhas porfias.
Lembre-vos quanta rezĂŁo
tive pera esquecer-vos,
e sempre meu coração,
quanto menos galardĂŁo,
tanto mais firme em querer-vos.

Lembre-vos que, sem mudar
o querer desta vontade,
me haveis sempre de lembrar,
té de todo me acabar,
vĂłs e vossa saudade.
Lembre-vos como pagais
o tempo que me deveis,
olhai quĂŁo mal me tratais:
Sam o que vos quero mais,
o que menos vĂłs quereis.

Lembre-vos tempo passado,
nĂŁo porque de lembrar seja,
mas vereis quĂŁo magoado
devo de ser c’o cuidado
do que minha alma deseja.
Lembre-vos minha firmeza,
de vĂłs tĂŁo desconhecida,
lembre-vos vossa crueza,
junta com minha tristeza,

Continue lendo…