Há uma cor que não vem nos dicionários. É essa indefinível cor que têm todos os retratos, os figurinos da última estação.. – a cor do tempo.
Passagens de Mário Quintana
363 resultadosUm bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente… e não a gente a ele!
As mãos que dizem adeus são pássaros que vão morrendo lentamente.
Tão bom morrer de amor… e continuar vivendo.
Poesia, uma maneira de falar sozinho
Subnutrido de beleza, meu cachorro-poema vai farejando poesia em tudo, pois nunca se sabe quanto tesouro andará desperdiçado por aí… Quanto filhotinho de estrela atirado no lixo!
A poesia não se entrega a quem a define.
As Mãos do Meu Pai
As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas…
essa chama de vida — que transcende a própria vida…
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma…
Venho do fundo das Eras Quando o mundo mal nascia… Sou tão antigo e tão novo Como a luz de cada dia!
Amar é mudar a alma de casa.
Sonhar é acordar-se para dentro.
O mais triste de um passarinho engaiolado é que ele se sente bem.
Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto É como se abrisse o mesmo livro Numa página nova…
Os que metem uma bala na cabeça retiram-se deste mundo batendo com a porta.
O passado não reconhece o seu lugar: esta sempre presente.
A maioria das gentes vive de convicção e não de ideias.
Ah! quanta vez a vida nos revela que a saudade da amada criatura é bem melhor do que a presença dela.
Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.
O cotidiano é o incógnito do mistério.
Ah! Os Relógios
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios…Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida –
acaso lhes indaga que horas são…