Poema Explicativo

InĂșteis sĂŁo os voos. InĂșteis sĂŁo os pĂĄssaros.
Silenciosas sombras tudo extinguem.
Como as vagas de um mar longĂ­nquo e frio,
sĂŁo de inĂșteis palavras estes versos,
pois o calado tempo esmaga tudo.

Moro num rio inĂștil que caminha
entre margens de musgo e subalternas
pontes e ĂĄguas que reflectem
estrelas, luminĂĄrias, desencanto.

Os peixes nĂŁo obstante jĂĄ nĂŁo dormem.
SĂŁo inĂșteis os sonhos e as amarras
que nos prendem ao cais.
E o sangue que nos leva
em artérias eléctricas de desejo.

JĂĄ somos todos poetas — e a poesia Ă© inĂștil —
antepassados simples de um futuro
remoto onde seremos sinais na rocha, apenas.

GerminarĂĄ o trevo entre os alexandrinos
e nenhum pĂĄssaro compreenderĂĄ o sentido
das pĂĄginas dispersas sobre a areia.

Estas palavras nuas se transformarĂŁo
em pó, em lodo, em traças e raízes.