Prometi-me PossuĂ­-la

Prometi-me possuĂ­-la muito embora
ela me redimisse ou me cegasse.
Busquei-a na catĂĄstrofe da aurora,
e na fonte e no muro onde sua face,

entre a alucinação e a paz sonora
da ĂĄgua e do musgo, solitĂĄria nasce.
Mas sempre que me acerco vai-se embora
como se temesse ou me odiasse.

Assim persigo-a, lĂșcido e demente.
Se por detrĂĄs da tarde transparente
seus pés vislumbro, logo nos desvãos

das nuvens fogem, luminosos e ĂĄgeis!
Vocabulário e corpo — deuses frágeis —
eu colho a ausĂȘncia que me queima as mĂŁos.

[Poemas Portugueses]