Poemas sobre Rios de Pablo Neruda

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Poemas de rios de Pablo Neruda. Leia este e outros poemas de Pablo Neruda em Poetris.

Bela

Bela,
como na pedra fresca
da fonte, a água
abre um vasto relâmpago de espuma,
assim Ă© o sorriso do teu rosto,
bela.

Bela,
de finas mãos e delicados pés
como um cavalinho de prata,
caminhando, flor do mundo,
assim te vejo,
bela.

Bela,
com um ninho de cobre enrolado
na cabeça, um ninho
da cor do mel sombrio
onde o meu coração arde e repousa,
bela.

Bela,
nĂŁo te cabem os olhos na cara,
nĂŁo te cabem os olhos na terra.
Há países, há rios
nos teus olhos,
a minha pátria está nos teus olhos,
eu caminho por eles,
eles dĂŁo luz ao mundo
por onde quer que eu vá,
bela.

Bela,
os teus seios sĂŁo como dois pĂŁes feitos
de terra cereal e lua de ouro,
bela.

Bela,
a tua cintura
moldou-a o meu braço como um rio quando
passou mil anos por teu doce corpo,
bela.

Bela,
não há nada como as tuas coxas,

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A Infinita

VĂŞs estas mĂŁos? Mediram
a terra, separaram
os minerais e os cereais,
fizeram a paz e a guerra,
derrubaram as distâncias
de todos os mares e rios
e, no entanto,
quando te percorrem
a ti, pequena,
grĂŁo de trigo, calhandra,
nĂŁo conseguem abarcar-te,
fatigam-se ao agarrar
as pombas gémeas
que repousam ou voam no teu peito,
percorrem as distâncias das tuas pernas,
enrolam-se na luz da tua cintura.
Para mim tu Ă©s tesouro mais rico
de imensidade do que o mar e seus cachos
e Ă©s branca e azul e extensa como
a terra nas vindimas.
Nesse territĂłrio,
desde os pés à fronte,
andando, andando, andando,
passarei a vida.

A Rainha

Nomeei-te rainha.
Há maiores do que tu, maiores.
Há mais puras do que tu, mais puras.
Há mais belas do que tu, há mais belas.

Mas tu Ă©s a rainha.

Quando andas pelas ruas
ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém olha
a passadeira de ouro vermelho
que pisas quando passas,
a passadeira que nĂŁo existe.

E quando surges
todos os rios se ouvem
no meu corpo,
sinos fazem estremecer o céu,
enche-se o mundo com um hino.

SĂł tu e eu,
sĂł tu e eu, meu amor,
o ouvimos.

Sempre

Ao contrário de ti
nĂŁo tenho ciĂşmes.

Vem com um homem
Ă s costas,
vem com cem homens nos teus cabelos,
vem com mil homens entre os seios e os pés,
vem como um rio
cheio de afogados
que encontra o mar furioso,
a espuma eterna, o tempo.

Trá-los todos
até onde te espero:
estaremos sempre sozinhos,
estaremos sempre tu e eu
sozinhos na terra
para começar a vida.

Pequena América

Quando vejo a forma
da América no mapa,
amor, Ă© a ti que eu vejo:
as alturas do cobre em tua cabeça,
os teus peitos, trigo e neve,
a tua cintura delgada,
velozes rios que palpitam, doces
colinas e prados
e no frio do sul teus pés completam
a sua geografia de ouro duplicado.

Amor, se te toco,
minhas mĂŁos nĂŁo percorrem
apenas as tuas delĂ­cias,
mas ramos e terras, frutos e água,
a primavera que eu amo,
a lua do deserto, o peito
das pombas selvagens,
a suavidade das pedras polidas
pelas águas do mar ou dos rios
e a vermelha espessura
dos matagais onde
a sede e a fome espreitam.
E assim a minha extensa pátria me recebe,
pequena América, em teu corpo.

Mais ainda: quando te vejo reclinada,
em tua pele eu vejo, em tua cor de aveia,
a nacionalidade do meu carinho.
Porque dos teus ombros
fita-me, inundado de escuro suor,
o cortador de cana
de Cuba abrasadora,
e através da tua garganta
pescadores que tiritam
nas hĂşmidas casas do litoral
cantam-me o seu segredo.

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O Oleiro

Há em todo o teu corpo
uma taça ou doçura a mim destinada.

Quando levanto a mĂŁo
encontro em cada lugar uma pomba
que andava Ă  minha procura, como
se te houvessem, meu amor, feito de argila
para as minhas mĂŁos de oleiro.

Os teus joelhos, os teus seios,
a tua cintura,
faltam em mim como no cĂ´ncavo
duma terra sedenta
a que retiraram
uma forma,
e, juntos,

estamos completos como um sĂł rio,
como um sĂł areal.