SilĂȘncio, Nostalgia…
SilĂȘncio, nostalgia…
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.Luz de Outono, fria, fria…
Hora inĂștil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silĂȘncio ou nostalgia.InterminĂĄvel dia
de indizĂveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?
Poemas sobre SilĂȘncio de Fernanda de Castro
5 resultadosDistĂąncia
NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pĂ© de mim…
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que nĂŁo tinham fim.NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d’antes,
E se nas tuas mĂŁos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Tenho medo
Do silĂȘncio pesado d’esta sala…
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nĂłs dois…
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.Não vås para tão longe!
Fica. Inda Ă© tĂŁo cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!NĂŁo vĂĄs para tĂŁo longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!…
Paira nas velhas ruĂnas do conventoQue alĂ©m se avista,
TrĂȘs Poemas da SolidĂŁo
I
Nem aqui nem ali: em parte alguma.
NĂŁo Ă© este ou aquele o meu lugar.
Desço à praia, mergulho as mãos no mar,
mas do mar, nos meus dedos, fica a espuma.Meu jardim, minha cerca, meu pomar.
Perpassa a Ideia e mĂłi, como verruma.
Falar mas para quĂȘ? SĂł por falar?
JĂĄ nada quer dizer coisa nenhuma.Os instintos Ă solta, como feras,
e eu a pensar em velhas primaveras,
no antigo sortilégio das palavras.Agora é tudo igual, prazer e dor,
e a tua sementeira nĂŁo dĂĄ flor,
Ăł triste solidĂŁo que as almas lavras.II
TĂŁo sĂł!
Cada vez sĂŁo mais longos os caminhos
que me levam Ă gente.
(E os pensamentos fechados em gaiolas,
as ideias em jaulas.)Ah, nĂŁo fujam de mim!
NĂŁo mordo, nĂŁo arranho.
Direi:
â «Pois nĂŁo! Ora essa! Tem razĂŁo».Entanto, na gaiola,
cantarĂŁo em silĂȘncio
os sonhos, as ideias,
como pĂĄssaros mudos.III
SolidĂŁo.
A multidĂŁo em volta
e o pensamento Ă solta
como alado corcel.
Se os Poetas Dessem as MĂŁos
Se os Poetas dessem as mĂŁos
e fechassem o Mundo
no grande abraço da Poesia,
cairiam as grades das prisÔes
que nos tolhem os passos,
os arames farpados
que nos rasgam os sonhos,
os muros de silĂȘncio,
as muralhas da cĂłlera e do Ăłdio,
as barreiras do medo,
e o Dia, como um pĂĄssaro liberto,
desdobraria enfim as asas
sobre a Noite dos homens.Se os Poetas dessem as mĂŁos
e fechassem o Mundo
no grande abraço da Poesia.
Meditação
Ăs vezes, quando a noite vem caindo,
Tranquilamente, sossegadamente,
Encosto-me Ă janela e vou seguindo
A curva melancĂłlica do Poente.NĂŁo quero a luz acesa. Na penumbra,
Pensa-se mais e pensa-se melhor.
A luz magoa os olhos e deslumbra,
E eu quero ver em mim, Ăł meu amor!Para fazer exame de consciĂȘncia
Quero silĂȘncio, paz, recolhimento
Pois sĂł assim, durante a tua ausĂȘncia,
Consigo libertar o pensamento.Procuro entĂŁo aniquilar em mim,
A nefasta influĂȘncia que domina
Os meus nervos cansados; mas por fim,
Reconheço que amar-te é minha sina.Longe de ti atrevo-me a pensar
Nesse estranho rigor que me acorrenta:
E tenho a sensação do alto mar,
Numa noite selvagem de tormenta.Tens no olhar magias de profeta
Que sabe ler no cĂ©u, no mar, nas brasas…
Adivinhas… Serei a borboleta
Que vendo a luz deixa queimar as asas.No entanto â vĂȘ lĂĄ tu!â Eu nĂŁo lamento
Esta vontade que se impĂ”e Ă minha…
Nem me revolto… cedo ao encantamento…
â Escrava que nĂŁo soube ser Rainha!