A um Mosquito

InvencĂ­vel mosquito,
Émulo do mais livre pensamento,
Sem corpo, e de todo espĂ­rito,
Que deste fim a um tĂŁo alto intento,
Quando precipitado
O céu de Délia acometeste ousado.

As portas de diamante
Cerradas ao clamor de tanta gente
Abriste triunfante,
Zombando da esperança impertinente,
Que entre temor, e espanto
Nunca acabou comigo esperar tanto.

Cupido, que inquieta
DĂ©lia sentiu ferida,
Espera, que o sinta,
A lança, que tiraste em sangue tinta,
Que o peito endurecido
É prova das setas de Cupido.

Porém de nada disto
Te mostres tĂŁo soberbo, e presumido,
Que podes sem ser visto
Passar a mais ferir, sem ser sentido,
E para castigar-te,
NĂŁo ocupas lugar nalguma parte.

Foras de amor ferido,
Se tivera o teu erro algum desconto,
Ou se achara Cupido
Aonde a ponta da seta pĂ´r o ponto.
Condolação bastante;
Pois nĂŁo picaste a DĂ©lia como amante.

Buscaste a noite escura
Por cometer a DĂ©lia mais oculto;
Quem medo te afigura,
Se nĂŁo faz o teu corpo nenhum vulto,

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