Nuvens
No dia triste o meu coração mais triste que o dia…
ObrigaçÔes morais e civis?
Complexidade de deveres, de consequĂȘncias?
NĂŁo, nada…
O dia triste, a pouca vontade para tudo…
Nada…Outros viajam (tambĂ©m viajei), outros estĂŁo ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive),
Todos tĂȘm razĂŁo, ou vida, ou ignorĂąncia simĂ©trica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para nĂŁo voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
NĂŁo sentem o que hĂĄ de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrĂvel em todo o novo…NĂŁo sentem: por isso sĂŁo deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
VĂŁo a todos os teatros e conhecem gente…
NĂŁo sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
DeixĂĄ-lo passar engrinaldado para o sacrifĂcio
Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se…
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer…
Poemas sobre Vaidade de Ălvaro de Campos
2 resultadosSe te Queres Matar
Se te queres matar, por que nĂŁo te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, tambĂ©m me mataria…
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convençÔes e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fĂm?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente…
Talvez, acabando, comeces…
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E nĂŁo cantes, como eu, a vida por bebedeira,
NĂŁo saĂșdes como eu a morte em literatura!Fazes falta? Ă sombra fĂștil chamada gente!
NinguĂ©m faz falta; nĂŁo fazes falta a ninguĂ©m…
Sem ti correrĂĄ tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te…
Talvez peses mais durando, que deixando de durar…A mĂĄgoa dos outros?… Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarĂŁo…
O impulso vital apaga as lĂĄgrimas pouco a pouco,