Se te Queres Matar

Se te queres matar, por que nĂŁo te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, tambĂ©m me mataria…
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convençÔes e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fĂ­m?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente…
Talvez, acabando, comeces…
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E nĂŁo cantes, como eu, a vida por bebedeira,
NĂŁo saĂșdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fĂștil chamada gente!
NinguĂ©m faz falta; nĂŁo fazes falta a ninguĂ©m…
Sem ti correrĂĄ tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te…
Talvez peses mais durando, que deixando de durar…

A mĂĄgoa dos outros?… Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarĂŁo…
O impulso vital apaga as lĂĄgrimas pouco a pouco,

Continue lendo…