Incontentado
Quando em teus braços, meu amor, te beijo,
se me torno, de sĂșbito, tristonho,
Ă© porque Ă s vezes, com temor, prevejo
que esta alegria pode ser um sonho.Olho os meus olhos nos teus olhos… Ponho,
trĂȘmulo, as mĂŁos nas tuas mĂŁos… E vejo
que és tu mesma, que és tu! E ainda suponho
Ser enganado pelo meu desejo.Quanto mais, desvairado de ansiedade,
do teu corpo, meu corpo se avizinha,
mais de ti, junto a ti, sinto saudade…– E o meu suplĂcio atroz nĂŁo se adivinha,
quando, beijando-te, o pavor me invade
de que em meus braços tu não sejas minha!
Sonetos sobre Beijos de Martins Fontes
4 resultadosBeijos No Ar
No silĂȘncio da noite, alta e deserta,
inebriante, férvido sintoma,
uma fragrĂąncia feminina assoma
e tentadoramente me desperta.Entrou-me, em ondas, a janela aberta,
como se se quebrara uma redoma,
da qual fugira o delirante aroma,
que o mistério do amor assim me oferta.De que dama-da-noite ou jasmineiro,
de que magnĂłlia em flor, em fevereiro,
se exala esse cĂĄlido desejo?Ela sonha comigo: esse perfume
vem da sua saudade, que presume,
embora em sonho, ter-me dado um beijo!
O Que Se Escuta Numa Velha Caixa De MĂșsica
Nunca roubei um beijo. O beijo dĂĄ-se,
ou permuta-se, mas naturalmente.
Em seu sabor seria diferente
se, em vez de ser trocado, se furtasse.Todo beijo de amor, longo ou fugace,
deve ser u prazer que a ambos contente.
Quando, encantado, o coração consente,
beija-se a boca, nĂŁo se beija a face.NĂŁo toquemos na flor maravilhosa,
seja qual for a sedução do ensejo,
vendo-a ofertar-se, fĂĄcil e formosa.Como os ĂĄrabes, loucos de desejo,
amemos a roseira, olhando a rosa,
roubemos a mulher e nĂŁo o beijo.
Longus
Ă de manhĂŁ, no outono. Ă luz, o orvalho
doira os mirtais de trĂȘmulas capelas.
e, sobre o solo, recobrindo o atalho,
hĂĄ milhares de folhas amarelas…A Filetas, ao pĂ© de amplo carvalho,
ouvem as narraçÔes e pastorelas,
um rapaz, aindaingĂȘnuo e sem trabalho,
e a mais linda de todas as donzelas…Ă a narrativa do florir dos prados,
que o mais doce dos velhos barbilongos
conta ao casal de jovens namorados…SilĂȘncio… Ouvi-lhe o beijo dos ditongos,
os silĂĄbicos sons, que musicados,
cantam na amĂĄvel pastoral de Longus…