Sonetos sobre CĂ©u de LĂȘdo Ivo

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Soneto Da Mulher E A Nuvem

A JoĂŁo Cabral de Melo Neto

Nuvem no céu do nunca, nem tão branca
– assim era o amor, Ă  minha espreita,
e era a mulher, de nuvens sempre feita
e de véus e pudor que o amor arranca.

NĂŁo pude amĂĄ-la, pois nĂŁo era franca
a sua carne que o amor aceita,
nuvem que um céu de amor sempre atravanca
e entre praias e pĂąntanos se deita.

Bruma de carne, em vão céu de tormento,
parindo fogo aos meus dezesseis anos,
assim foi ela, sem deixar seu nome.

Nunca foi minha, e sĂł em pensamento
eu pude dar-lhe o amor de desenganos
que me deixou no corpo espanto e fome.

Soneto Das Alturas

As minhas esquivanças vão no vento
alto do céu, para um lugar sombrio
onde me punge o descontentamento
que no mar nĂŁo desĂĄgua, nem no rio.

Às mudanças me fio, sempre atento
ao que muda e perece, e ardente e frio,
e novamente ardente Ă© no momento
em que luz o desejo, poldro em cio.

Meu corpo nada quer, mas a minh’alma
em fogos de amplidĂŁo deseja tudo
o que ultrapassa o humano entendimento.

E embora nada atinja, nĂŁo se acalma
e, sendo alma, transpÔe meu corpo mudo,
e aos céus pede o inefåvel e não o vento.