Sonetos sobre Culpa de Sá de Miranda

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Sonetos de culpa de Sá de Miranda. Leia este e outros sonetos de Sá de Miranda em Poetris.

Aquela FĂ© TĂŁo Clara E Verdadeira

Aquela fé tão clara e verdadeira,
A vontade tão limpa e tão sem mágoa,
Tantas vezes provada em viva frágua
De fogo, i apurada, e sempre inteira;

Aquela confiança, de maneira
Que encheu de fogo o peito, os olhos de água,
Por que eu ledo passei por tanta mágoa,
Culpa primeira minha e derradeira,

De que me aproveitou? NĂŁo de al por certo
Que dum sĂł nome tĂŁo leve e tĂŁo vĂŁo,
Custoso ao rosto, tĂŁo custoso Ă  vida.

Dei de mim que falar ao longe e ao perto;
E já assi se consola a alma perdida,
Se nĂŁo achar piedade, ache perdĂŁo.

Em Tormentos Cruéis

Em tormentos cruéis, tal sofrimento,
em tĂŁo contĂ­nua dor, que nunca aliva,
chamar a morte sempre, e que ela, altiva,
se ria dos meus rogos, no tormento!

E ver no mal que todo entendimento
naturalmente foge, e quanto aviva
a dor mais o vagar da alma cativa,
a quem não fará crer que é tudo um vento?

Bem sei uns olhos, que tĂŞm toda a culpa,
e sĂŁo os meus, que a toda parte vĂŞm
apĂłs o que vĂŞem sempre e os desculpa.

Ó minhas visões altas, meu só bem,
quem vos a vĂłs nĂŁo vĂŞ, esse me culpa,
e eu sou o só que as vejo, outrem ninguém!