Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim.
Passagens sobre Ninguém
1737 resultadosAmar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente…
Amar! Amar! E não amar ninguém!Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder… pra me encontrar…
O Que Procuro na Literatura
Que é que eu procuro na literatura? Que é que me arrasta para este combate interminável e sempre votado ao fracasso? Como é imbecil pensar-se que se escreve para se «ter nome» e as vantagens que nisso vêm. Espera-se decerto sempre fazer melhor, mas só porque sempre se falhou. Assim se sabe também que se vai falhar de novo. Não se escreve para ninguém, o problema decide-se apenas entre nós e nós. Mas há um lugar inatingível e cada nova tentativa é uma tentativa para o alcançar.
O desejo que nos anima é o de fixar, segurar pela palavra o que entrevemos e se nos furta. Julgamos às vezes que o atingimos, mas logo se sabe que não. Miragem perene de uma presença luminosa, de um absoluto de estarmos inundados dessa evidência, encantamento que nos deslumbra no instante e nesse instante se dissolve.
O que me arrasta nesta luta sem fim é o aceno de uma plenitude de ser, a integração perfeita do que sou no milagre que me entreluz, a transfiguração de mim e do mundo no que fulgura e vai morrer.
Recaído de cada vez no mais baixo, na grossa naturalidade de que sou feito,
Ninguém se lembraria do Bom Samaritano se ele só tivesse boas intenções. Ele possuía também dinheiro.
Uma das maravilhas da vida é o facto de que ninguém precisa de esperar nem um segundo para começar a melhorar o mundo.
Os homens são animais estranhos, pensamos e sentimos com lógicas diferentes, e muitas vezes o que sentimos opõe-se ao que nos convém. O amor, a paixão, os sentimentos – e até, porque não, o ódio – que podem arruinar-nos, mas avançamos em direcção à ruína deliberadamente, temos necessidade de continuar a fazê-lo e ninguém sabe explicar porquê.
O modo mais seguro de divulgar a todos alguma coisa é segredá-la ao ouvido de um amigo, suplicando-lhe para que não a conte a ninguém.
A crítica é algo que pode ser evitado não dizendo nada, não fazendo nada e não sendo ninguém.
A justiça todos a querem, em sua casa ninguém e menos em si mesmo.
Não sei por que todos me adoram se ninguém entende minhas ideias.
Não faças a ninguém o que não queres que te façam
Não faças a ninguém o que não queres que te façam.
Destruição
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem:
Um se beija no outro, reflectido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.
Frígida
I
Balzac é meu rival, minha senhora inglesa!
Eu quero-a porque odeio as carnações redondas!
Mas ele eternizou-lhe a singular beleza
E eu turbo-me ao deter seus olhos cor das ondas.II
Admiro-a. A sua longa e plácida estatura
Expõe a majestade austera dos invernos.
Não cora no seu todo a tímida candura;
Dançam a paz dos céus e o assombro dos infernos.III
Eu vejo-a caminhar, fleumática, irritante,
Numa das mãos franzindo um lençol de cambraia!…
Ninguém me prende assim, fúnebre, extravagante,
Quando arregaça e ondula a preguiçosa saia!IV
Ouso esperar, talvez, que o seu amor me acoite,
Mas nunca a fitarei duma maneira franca;
Traz o esplendor do Dia e a palidez da Noite,
É, como o Sol, dourada, e, como a Lua, branca!V
Pudesse-me eu prostar, num meditado impulso,
Ó gélida mulher bizarramente estranha,
E trêmulo depor os lábios no seu pulso,
Entre a macia luva e o punho de bretanha!…VI
Cintila ao seu rosto a lucidez das jóias.
Ao encarar consigo a fantasia pasma;
Ah, o que é aquele Barulho
Ah, o que é aquele barulho
Ah, o que é aquele barulho que vibra no ouvidos
Lá em baixo no vale, a rufar, a rufar?
São apenas os soldados escarlates, amor,
Os soldados que chegam.Ah, o que é aquela luz que vejo tão cintilante e intensa
Lá ao longe, brilhante, brilhante?
Apenas o sol incidindo nas armas, amor,
Enquanto avançam ligeiros.Ah, que estão eles a fazer com todo aquele equipamento,
Que estão eles a fazer esta manhã, esta manhã?
Somente as manobras habituais, amor,
Ou talvez seja um aviso.Ah, por que terão abandonado a estrada ali em baixo,
Por que andam de repente às voltas, às voltas?
Talvez tenham recebido ordens diferentes, amor.
Por que estás de joelhos?Ah, não pararam para o médico cuidar deles,
Não detiveram os cavalos, os cavalos?
Claro, ninguém está ferido, amor,
Nenhum destes soldados.Ah, é o padre de cabelo branco que eles querem,
O padre, não é, não é?
Não, estão a passar ao seu portão, amor,
Sem o irem visitar.
Mesmo sendo casto como gelo e puro como a neve, ninguém está livre da calúnia.
Rosa, ó pura contradição, volúpia
de ser o sono de ninguém sob tantas
pálpebras.
Ninguém é tão irremediavelmente escravizado quanto aquele que acredita equivocadamente que é livre.
Sussurro
Isto é um poço. Há sempre quem nele se debruce. A água
continua a correr sem qualquer destino, e sabemos
como se afasta devagar para ser igual às vestes
caídas, talvez abandonadas. Assim tu podes ver
o que se confunde ali com a luz e, depois, se torna
mais nosso. Sem pressa aproximas-te agora desse espelho
vazio e sentirás que só a brisa desce até ficarmos
perto de alguns sulcos. Eles tornaram-se maiores, humedecidos.
Inclinas-te um pouco mais como se finalmente escutasses
uma confidência. Sabemos que é em vão porque ninguém se encontra
ao teu lado e já não é suficiente o sussurro da água.
O segredo de um grande negócio consiste em saber algo que mais ninguém sabe.
O Problema da Sinceridade do Poeta
O poeta superior diz o que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. Nada disto tem que ver com a sinceridade. Em primeiro lugar, ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se deve sentir nessas ocasiões. A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa no poeta. Tanto assim é que não creio que haja, em toda a já longa história da Poesia, mais que uns quatro ou cinco poetas, que dissessem o que verdadeiramente, e não só efectivamente, sentiam. Há alguns, muito grandes, que nunca o disseram, que foram sempre incapazes de o dizer. Quando muito há, em certos poetas, momentos em que dizem o que sentem.
Aqui e ali o disse Wordsworth. Uma ou duas vezes o disse Coleridge; pois a Rima do Velho Nauta e Kubla Khan são mais sinceros que todo o Milton, direi mesmo que todo o Shakespeare. Há apenas uma reserva com respeito a Shakespeare: é que Shakespeare era essencial e estruturalmente factício;