Sonetos Exclamativos de Sá de Miranda

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Quem aos Olhos Dar-me-á uma Vertente

Quem aos olhos dar-me-á uma vertente
de lágrimas, que manem noite e dia?
Ao menos a alma, enfim, respiraria,
chorando, ora o passado, ora o presente.

Quem me dará, longe de toda gente,
suspiros, que me valham na agonia
já longa, que o afã tanto encobria?
Sucedeu-me depois tanto acidente!

Quem me dará palavras com que iguale
tanto agravo que amor já me tem feito,
pois que tĂŁo pouco o sofrimento vale?

Ah! quem ao meio me abra este meu peito,
onde jaz tanto mal, por que se exale
tamanha coita minha e meu despeito?

Em Tormentos Cruéis

Em tormentos cruéis, tal sofrimento,
em tĂŁo contĂ­nua dor, que nunca aliva,
chamar a morte sempre, e que ela, altiva,
se ria dos meus rogos, no tormento!

E ver no mal que todo entendimento
naturalmente foge, e quanto aviva
a dor mais o vagar da alma cativa,
a quem não fará crer que é tudo um vento?

Bem sei uns olhos, que tĂŞm toda a culpa,
e sĂŁo os meus, que a toda parte vĂŞm
apĂłs o que vĂŞem sempre e os desculpa.

Ó minhas visões altas, meu só bem,
quem vos a vĂłs nĂŁo vĂŞ, esse me culpa,
e eu sou o só que as vejo, outrem ninguém!