Sonetos sobre Noite de Sá de Miranda

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Sonetos de noite de Sá de Miranda. Leia este e outros sonetos de Sá de Miranda em Poetris.

Quem aos Olhos Dar-me-á uma Vertente

Quem aos olhos dar-me-á uma vertente
de lágrimas, que manem noite e dia?
Ao menos a alma, enfim, respiraria,
chorando, ora o passado, ora o presente.

Quem me dará, longe de toda gente,
suspiros, que me valham na agonia
já longa, que o afã tanto encobria?
Sucedeu-me depois tanto acidente!

Quem me dará palavras com que iguale
tanto agravo que amor já me tem feito,
pois que tĂŁo pouco o sofrimento vale?

Ah! quem ao meio me abra este meu peito,
onde jaz tanto mal, por que se exale
tamanha coita minha e meu despeito?

Este Retrato Vosso Ă© o Sinal

Este retrato vosso Ă© o sinal
ao longe do que sois, por desamparo
destes olhos de cá, porque um tão claro
lume nĂŁo pode ser vista mortal.

Quem tirou nunca o sol por natural?
Nem viu, se nuvens nĂŁo fazem reparo,
em noite escura ao longe aceso um faro?
Agora se nĂŁo vĂŞ, ora vĂŞ mal.

Para uns tais olhos, que ninguém espera
de face a face, gram remédio fora
acertar o pintor ver-vos sorrindo.

Mas inda assim nĂŁo sei que ele fizera,
que a graça em vós não dorme em nenhuma hora.
Falando que fará? Que fará rindo?