Desfolhando
Essa boca, pequena, e assim vermelha,
que ao botão de uma rosa se assemelha,
– quanta vez provocava os meus desejos
desabrochando em flor entre os meus beijos…Essa boca, pequena e mentirosa,
que diz, tanta mentira cor-de-rosa,
– era a taça de amor onde eu saciava
toda a ansiedade da minha alma escrava …Beijando-a, compreendia que eras minha…
Meu amor transformava-te em rainha,
teu amor me fazia mais que um rei…Agora, tu fugiste… E eu sofro, quando
vejo um outro em teus lábios desfolhando
a mesma rosa que eu desabrochei!…
Sonetos sobre Escravos de J. G. de Araújo Jorge
5 resultadosAmor De Mentiras
“Amor… De Mentiras…”
I
Eram beijos de fogo, eram de lavas,
e sabiam a sonhos e ambrosias.
Como pensar que a boca com que os dava
era a mesma afinal com que mentias?Se eras as mais humilde das escravas
em dádivas, anseios, alegrias,
– como prever que o amor que me juravas
seria mais uma das tuas heresias ?Como supor ser tudo um falso jogo?
E crer que se extinguisse aquele fogo
que acendia em teus olhos duas piras?E descobrir, – no instante em que me amavas, –
que em tua boca ansiosa misturavas
ao mesmo tempo beijos e mentiras ?
O Verbo Amar
Te amei: – era de longe que eu te olhava
e de longe me olhavas vagamente…
Ah, quanta coisa nesse tempo a gente
sente, que a alma da gente faz escrava…Te amava: – como inquieto adolescente,
tremendo ao te enlaçar… E te enlaçava
adivinhando esse mistério ardente
do mundo, em cada beijo que te dava!Te amo: – e ao te amar assim vou conjugando
os tempos todos desse amor, enquanto
segue a vida, vivendo… e eu, vou te amando…Te amar é mais que um verbo, é a minha lei:
– e é por ti que o repito no meu canto:
te amei, te amava, te amo e te amarei!
Sonetos Para Maria Helena
Tu que por crenças vãs a Vida arrasas
e ante o espelho não queres ver que és,
que imagina viver abrindo as asas
e te esqueces de andar com os próprios pés…Que transforma o Sonho num revés
mesmo a acender o fogo em que abrasas,
e te algema as mãos, – as mãos escravas
como as do prisioneiro das galés.Tu que te enganas a falar de alturas
com as palavras mais belas e mais puras
e te imolas num gesto superior,não percebes nessa ânsia de suicida
que nada há enfim mais alto do que a Vida
quando a erguemos num brinde – ébrios de amor!
Passional
És lânguida e amorosa quando estás sozinha
e em teu corpo perfeito este amor apoteosas!
Nos teus olhos distantes, tudo se adivinha
e há um teu beijo um sabor encarnado de rosas!Nasceste com certeza para ser rainha,
e o serias na certa, das mais poderosas!
– no entanto, aqui te tenho escrava, e sendo minha
cabes toda e inteirinha em minhas mãos nervosas!Os teus cabelos louros, soltos sobre o leito
espalham-se em meu ombro, emolduram teu rosto,
e, quando assim te sinto abatida em meu peitoos teus olhos castanhos, místicos, oblongos,
vão morrendo em desmaios roxos de sol posto
sob a noite de seda dos teus cílios longos!