Ao EstrĂdulo Solene Dos Bravos
–Â Os TrĂłpicos pulando as palmas batem…
Em pĂ© nas ondas – O Equador dĂĄ vivas!…Ao estrĂdulo solene dos bravos! das platĂ©ias,
Prossegues altaneira, oh! Ădolo da arte!…
–Â O sol pĂĄra o curso p’ra bem de admirar-te
– O sol, o grande sol, o misto das idĂ©ias.A velha natureza escreve-te odissĂ©ias…
A estrela, a nĂvea concha, o arbusto… em toda a parte
Retumba a doce orquestra que ousa proclamar-te
Assombro do ideal, em duplas melopéias!Perpassam vagos sons na harpa do mistério
LĂĄ, quando no proscĂȘnio te ergues imperando
– Oh! Ăbis magistral do mundo azul – sidĂ©rio!EntĂŁo da imensidade, audaz vem reboando
De palmas o tufão, veloz, febril, aéreo
Que cai dentro das almas e as vai arrebatando!…
Sonetos sobre Estrelas de Cruz e Souza
52 resultadosMadona Da Tristeza
Quando te escuto e te olho reverente
E sinto a tua graça triste e bela
De ave medrosa, tĂmida, singela,
Fico a cismar enternecidamente.Tua voz, teu olhar, teu ar dolente
Toda a delicadeza ideal revela
E de sonhos e lĂĄgrimas estrela
O meu ser comovido e penitente.Com que mĂĄgoa te adoro e te contemplo,
Ă da Piedade soberano exemplo,
Flor divina e secreta da Beleza.Os meus soluços enchem os espaços
Quando te aperto nos estreitos braços,
solitĂĄria madona da Tristeza!
Olavo Bilac
Vim afinal para o solar dos astros,
De irradiaçÔes purĂssimas e belas,
Numa viagem de alterosos mastros,
Numa viagem de saudosas velas…Das alegrias nos febris enastros
Que as almas prendem para percebĂȘ-las,
Vim cantando e feliz, fugindo aos rastros
Da terra de onde vi e ouvi estrelas.E por aqui, nas lĂșcidas paisagens,
Vestido das mais fluĂdicas roupagens
Tecido de ouro, nos clarĂ”es imersos…Ando a gozar, entre laurĂ©is e palmas,
O que cantei na terra, junto Ă s almas,
Na eterna florescĂȘncia dos meus versos.
Carnal E MĂstico
Pelas regiĂ”es tenuĂssimas da bruma
Vagam as Virgens e as Estrelas raras…
Como que o leve aroma das searas
Todo o horizonte em derredor perfume.N’uma evaporação de branca espuma
VĂŁo diluindo as perspectives claras…
Com brilhos crus e fĂșlgidos de tiaras
As Estrelas apagam-se uma a uma.E entĂŁo, na treva, em mĂsticas dormĂȘncias
Desfila, com sidĂ©reas lactescĂȘncias,
Das Virgens o sonĂąmbulo cortejo…Ă Formas vagas, nebulosidades!
EssĂȘncia das eternas virgindades!
Ă intensas quimeras do Desejo…
O Grande Sonho
Sonho profundo, Ăł Sonho doloroso,
Doloroso e profundo Sentimento!
Vai, vai nas harpas trĂȘmula do vento
Chorar o teu mistério tenebroso.Sobe dos astros ao clarão radioso,
Aos leves fluidos do luar nevoento,
Ăs urnas de cristal do firmamento,
Ă velho Sonho amargo e majestoso!Sobe Ă s estrelas rĂștilas e frias,
Brancas e virginais eucaristias
De onde uma luz de eterna paz escorre.Nessa Amplidão das AmplidÔes austeras
Chora o Sonho profundo das Esferas
Que nas azuis Melancolias morre…
Alma Fatigada
Nem dormir nem morrer na fria Eternidade!
Mas repousar um pouco e repousar um tanto,
Os olhos enxugar das convulsÔes do pranto,
Enxugar e sentir a ideal serenidade.A graça do consolo e da tranqĂŒilidade
De um céu de carinhoso e perfumado encanto,
Mas sem nenhum carnal e mĂłrbido quebranto,
Sem o tĂ©dio senil da vĂŁ perpetuidade.Um sonho lirial d’estrelas desoladas
Onde as almas febris, exaustas, fatigadas
Possam se recordar e repousar tranqĂŒilas!Um descanso de Amor, de celestes miragens,
Onde eu goze outra luz de mĂsticas paisagens
E nunca mais pressinta o remexer de argilas!
As Estrelas
Lå, nas celestes regiÔes distantes,
No fundo melancĂłlico da Esfera,
Nos caminhos da eterna Primavera
Do amor, eis as estrelas palpitantes.Quantos mistérios andarão errantes,
Quantas almas em busca da Quimera,
LĂĄ, das estrelas nessa paz austera
Soluçarão, nos altos céus radiantes.Finas flores de pérolas e prata,
Das estrelas serenas se desata
Toda a caudal das ilusÔes insanas.Quem sabe, pelos tempos esquecidos,
Se as estrelas nĂŁo sĂŁo os ais perdidos
Das primitivas legiÔes humanas?!
SideraçÔes
Para as Estrelas de cristais gelados
As Ăąnsias e os desejos vĂŁo subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidĂŁo vestindo…Num cortejo de cĂąnticos alados
Os arcanjos, as cĂtaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo…Dos etĂ©reos turĂbulos de neve
Claro incenso aromal, lĂmpido e leve,
Ondas nevoentas de VisĂ”es levanta…E as Ăąnsias e os desejos infinitos
VĂŁo com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta…
Feliz!
Ser de beleza, de melamcolia,
EspĂrito de graça e de quebranto,
Deus te bendiga o doloroso pranto,
Enxugue as tuas lĂĄgrimas um dia.Se a tu’alma Ă© d’estrela e d’harmonia,
Se o que vem dela tem divino encanto,
Deus a proteja no sagrado manto,
No céu, que é o vale azul da Nostalgia.Deus a proteja na felicidade
Do sonho, do mistério, da saudade,
De cĂąnticos, de aroma e luz ardente.E sĂȘ feliz e sĂȘ feliz subindo,
Subindo, a Perfeição na alma sentindo
Florir e alvorecer libertamente!
Ansiedade
Esta ansiedade que nos enche o peito
Enche o céu, enche o mar, fecunda a terra.
Ela os germens purĂssimos encerra
Do Sentimento lĂmpido, perfeito.Em jorros cristalinos o direito,
A paz vencendo as convulsÔes da guerra,
A liberdade que abre as asas e erra
Pelos caminhos do Infinito eleito.Tudo na mesma ansiedade gira,
Rola no Espaço, dentre a luz suspira
E chora, chora, amargamente chora…Tudo nos turbilhĂ”es da Imensidade
Se confunde na trĂĄgica ansiedade
Que almas, estrelas, amplidÔes devora.
GlĂłria
Florescimentos e florescimentos!
GlĂłria Ă s estrelas, glĂłria Ă s aves, glĂłria
Ă natureza! Que a minh’alma flĂłrea
Em mais flores flori de sentimentos.GlĂłria ao Deus invisĂvel dos nevoentos
Espaços! glória à lua merencória,
GlĂłria Ă esfera dos sonhos, Ă ilusĂłria
Esfera dos profundos pensamentos.Glória ao céu, glória à terra, glória ao mundo!
Todo o meu ser Ă© roseiral fecundo
De grandes rosas de divino brilho.Almas que floresceis no Amor eterno!
Vinde gozar comigo este falerno,
Esta emoção de ver nascer um filho!
Um Ser
Um ser na placidez da Luz habita,
Entre os mistérios inefåveis mora.
Sente florir nas lĂĄgrimas que chora
A alma serena, celestial, bendita.Um ser pertence Ă mĂșsica infinita
Das Esferas, pertence Ă luz sonora
Das estrelas do Azul e hora por hora
Na Natureza virginal palpita.Um ser desdenha das fatais poeiras,
Dos miseråveis ouropéis mundanos
E de todas as frĂvolas cegueiras…Ele passa, atravessa entre os humanos,
Como a vida das vidas forasteiras
Fecundada nos prĂłprios desenganos.
Em Sonhos
Nos Santos Ăłleos do luar, floria
Teu corpo ideal, com o resplendor da Helade…
E em toda a etérea, branda claridade
Como que erravam fluidos de harmonia…As Ăguias imortais da Fantasia
Deram-te as asas e a serenidade
Para galgar, subir a Imensidade
Onde o clarĂŁo de tantos sĂłis radia.Do espaço pelos lĂmpidos velinos
Os Astros vieram claros, cristalinos,
Com chamas, vibraçÔes, do alto, cantando…Nos santos Ăłleos do luar envolto
Teu corpo era o Astro nas esferas solto,
Mais SĂłis e mais Estrelas fecundando!
Idéia-Mãe
Ergueis ousadamente o templo das idéias
Assim como uns herĂłis, por sobre os vossos ombros
E ides atravĂ©s de um negro mar d’escombros,
Traçando pelo ar as loiras epopéias.A luz tem para vós os filtros magnéticos
Que andam pela flor e brincam pela estrela.
E vĂłs amais a luz, gostais sempre de vĂȘ-la
Em amplo cintilar — nuns ĂȘxtases patĂ©ticos.Ă esse o aspirar do sĂ©c’lo que deslumbra,
Que rasga da ciĂȘncia a tĂ©trica penumbra
E gera VĂtor Hugo, Haeckel e LittrĂ©.Ă esse o grande — Fiat — que rola no infinito!…
à esse o palpitar, homérico e bendito,
De todo o ser que vive, estuda, pensa e lĂȘ!!…
Sempre O Sonho
Para encantar os cĂrculos da Vida
Ă ser tranqĂŒilo, sonhador, confiante,
Sempre trazer o coração radiante
Como um rio e rosais junto de ermida.Beber na vinha celestial, garrida
Das estrelas o vinho flamejante
E caminhar vitorioso e ovante
Como um deus, com a cabeça enflorescida.Sorrir, amar para alargar os mundoe
Do Sentimento e para ter profundos
Momentos de momentos soberanos.Para sentir em torno Ă terra ondeando
Um sonho, sempre um sonho além rolando
Vagas e vagas de imortais oceanos.
Musica Misteriosa
Tenda de Estrelas nĂveas, refulgentes,
Que abris a doce luz de alampadĂĄrios,
As harmonias dos Estradivarius
Erram da Lua nos clarĂ”es dormentes…Pelos raios fluĂdicos, diluentes
Dos Astros, pelos trĂȘmulos velĂĄrios,
Cantam Sonhos de mĂsticos templĂĄrios,
De ermitĂ”es e de ascetas reverentes…CĂąnticos vagos, infinitos, aĂ©reos
Fluir parecem dos Azuis etéreos,
Dentre os nevoeiros do luar fluindo…E vai, de Estrela a Estrela, a luz da Lua,
Na lĂĄctea claridade que flutua,
A surdina das lĂĄgrimas subindo…
ImpassĂvel
Teu coração de mårmore não ama
Nem um dia sequer, nem um sĂł dia.
Essa inclemente natureza fria
Jamais na luz dos astros se derrama.Mares e céus, a imensidade clama
Por esse olhar d’estrelas e harmonia,
Sem uma névoa de melancolia,
Do amor nas pompas e na vida chama.A Imensidade nunca mais quer vĂȘ-lo,
Indiferente às comoçÔes, de gelo
Ao mar, ao sol, aos roseirais de aromas.Ama com o teu olhar, que a tudo encantas,
Ou se antes de pedra, como as santas,
Mudas e tristes dentro das redomas.
A Grande Sede
Se tens sede de Paz e d’Esperança,
Se estĂĄs cego de Dor e de Pecado,
Valha-te o Amor, Ăł grande abandonado,
Sacia a sede com amor, descansa.Ah! volta-te a esta zona fresca e mansa
Do Amor e ficarĂĄs desafogado,
HĂĄs de ver tudo claro, iluminado
Da luz que uma alma que tem fé alcança.O coração que é puro e que é contrito,
Se sabe ter doçura e ter dolĂȘncia
Revive nas estrelas do Infinito.Revive, sim, fica imortal, na essĂȘncia
Dos Anjos paira, nĂŁo desprende um grito
E fica, como os Anjos, na ExistĂȘncia.
Grande Amor
Grande amor, grande amor, grande mistério
Que as nossas almas trĂȘmulas enlaça…
Céu que nos beija, céu que nos abraça
Num abismo de luz profundo e sério.Eterno espasmo de um desejo etéreo
E bålsamo dos bålsamos da graça,
Chama secreta que nas almas passa
E deixa nelas um clarão sidéreo.Cùntico de anjos e de arcanjos vagos
Junto Ă s ĂĄguas sonĂąmbulas de lagos,
Sob as claras estrelas desprendido…Selo perpĂ©tuo, puro e peregrino
Que prende as almas num igual destino,
Num beijo fecundado num gemido.
IrradiaçÔes
Ăs crianças
Qual da amplidĂŁo fantĂĄstica e serena
Ă luz vermelha e rĂștila da aurora
Cai, gota a gota, o orvalho que avigora
A imaculada e cùndida açucena.Como na cruz, da triste Madalena
Aos pés de Cristo, a lågrima sonora
Caia, rolou, qual bĂĄlsamo que irrora
A negra mĂĄgoa, a indefinida pena…Caia por vĂłs, esplĂȘndidas crianças
Bando feliz de castas esperanças,
Sonhos da estrela no infinito imersas;Caia por vĂłs, as mĂșsicas formosas,
Como um dilĂșvio matinal de rosas,
Todo o luar benéfico dos versos!