Sonetos sobre Fé de Fernão Rodrigues Lobo Soropita

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Sonetos de fé de Fernão Rodrigues Lobo Soropita. Leia este e outros sonetos de Fernão Rodrigues Lobo Soropita em Poetris.

Quanto Mais Pode Amor num Peito Humano

Quanto mais pode amor num peito humano,
Tanto se mostra mais não ter firmeza,
Pois quando dá mor gosto e mor alteza,
Então é mais cruel e desumano;

Põe debaixo do bem um falso engano,
Promete-vos prazer, dá-vos tristeza,
Seus afagos e gostos são crueza,
O mor gosto que tem é ser tirano.

Alto me pôs a fé e o pensamento,
Por que mor queda assim fizesse dar-me
Amor, que em ser cruel é tão isento;

Foi-me desenganar por segurar-me;
Assim, quanto me deu, foi tudo vento,
Desenganou-me enfim, para enganar-me!

A uma Partida

Partistes-vos, e a alma juntamente
Em partes desiguais se me partiu;
A melhor, que era vossa, vos seguiu;
Ficou-me a outra, fraca e descontente.

Bem sei que a natureza o não consente,
Mas Amor, que mais pode, o consentiu,
Por que a fé que em presença vos serviu,
Também vos sirva agora, estando ausente.

Eu, sem mim e sem vós, não sei que espero,
Nem com que maravilhas me sustento
Nas sombras tristes do meu bem passado.

Só sei que cada dia mais vos quero,
E que por mais que possa o esquecimento,
Nunca poderá mais que meu cuidado.

No Mar em que de Novo Amor me Guia

No mar em que de novo amor me guia,
O mais seguro porto é dar à costa;
Aonde todos se perdem, aí está posta
Minha salvação, aí me salvaria.

Só fé me há-de salvar nesta porfia
Do vento, que contrário vem de aposta;
E pois sua mor perda é dar à costa
Comigo, eu com Costa me queria.

Que vai já o querer, aonde a ventura
Criou tão desigual merecimento?
Valha-me pura fé, vontade pura!

Valha-me navegar meu pensamento
Com tal estrela, cuja formosura
Abranda o duro mar de meu tormento.