Soneto Da Perdida Esperança
Perdi o bonde e a esperança
Volto pĂĄlido para casa.
A rua Ă© inĂștil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princĂpio do drama e da flora.NĂŁo sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
porque nĂŁo? na noite escassacom um insolĂșvel flautim.
Entretanto hĂĄ muito tempo
nĂłs gritamos: sim! ao eterno.
Sonetos sobre Flora de Carlos Drummond de Andrade
3 resultadosRetorno
Meu ser em mim palpita como fora
do chumbo da atmosfera constritora.
Meu ser palpita em mim tal qual se fora
a mesma hora de abril, tornada agora.Que face antiga jĂĄ se nĂŁo descora
lendo a efĂgie do corvo na da aurora?
Que aura mansa e feliz dança e redoura
meu existir, de morte imorredoura?Sou eu nos meus vinte aons de lavoura
de sucos agressivos, qe elabora
uma alquimia severa, a cada hora.Sou eu ardendo em mim, sou eu embora
não me conheça mais na minha flora
que, fauna, me devora quanto Ă© pura.
A Castidade com que Abria as Coxas
A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tĂŁo estrita, como se alargava.Ah, coito, coito, morte de tĂŁo vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substĂąncia esvaĂda,
eu não era ninguém e era mil seresem mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.Roupa e tempo jaziam pelo chĂŁo.
E nem restava mais o mundo, Ă beira
dessa moita orvalhada, nem destino.